sábado, 13 de outubro de 2012
Se eu morrer novo
Se eu morrer muito novo,ouçam isto:
Nunca fui senão uma criança que brincava.
Fui gentil como o sol e a água,
De uma religião universal que só os homens não tem.
Fui feliz porque não pedi cousa nenhuma,
Nem procurei achar nada,
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não ter sentido nenhum.
Não desejei senão estar ao sol ou a chuva _
Ao sol quando havia sol
E a chuva quando estava chovendo
( E nunca a outra cousa ),
Sentir calor e frio e vento,
E não ir mais longe.
Uma vez amei,julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão_
Porque não tinha que ser.
Consolei_me voltando ao sol e à chuva,
E sentando_me outra vez à porta de casa.
Os campos,afinal,não são tão verdes para os que são amados
Como para os que não o são.
Sentir é estar distraído.
(Alberto Caeiro)
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