segunda-feira, 30 de maio de 2016

Pane

Não será justo me sentir viva só no momento em que entro nesse túnel de incertezas e ansiedade...
Na falta de algum ser decente para acelerar meu coração, aparece essa sensação castradora e limitante,me lembrando de maneira bem agressiva que eu não tenho controle algum, de situação nenhuma.
Almejei por tanto tempo, por algo desconhecido,mas que fosse bom...
Querendo estar em outro lugar, ao mesmo tempo em que permanecia imóvel no presente, me desloco por lugares escuros, sombrios...
Não era bem assim que a história tinha que se delinear, mas quem sou eu para questionar? O melhor da história ficou com Alice e Dorothy.
Dentro do meu crânio, as sinapses do meu cérebro, parecem em curto-circuito! Nenhum pensamento leve, nenhuma esperança para acalmar essa tempestade. Nenhuma história bonita, nenhum sonho provável...
Só a tentativa de controlar a respiração me lembra que estou viva...
A visão turva...moldada pela falta de algo concreto em que me fixar...
Ás vezes questiono quando isso surgiu e, principalmente, o porquê. E a única resposta que consigo enxergar é a palavra espera. A espera contínua e ansiosa por algo que não veio. A espera pelo que estava fora do alcance de minhas mãos. A vontade insana de esperar,mas conquistar...
Espero passar...

terça-feira, 24 de maio de 2016

As sombras


Apenas mais uma manhã de maio, e ela colhia as mesmas flores murchas de outrora, do mesmo antigo jardim.
Há muitos anos, tentava arrancar das entranhas da terra algo que restaurasse sua vida e a tirasse daquela estranha apatia, queria anular para sempre a devoradora indiferença que nutria com relação a tudo que escapasse de questões cotidianas: acordar, comer, tomar banho, ver TV, ouvir alguma música, ler quaisquer palavras, perder o nexo e até, cuidar do jardim...para depois dormir,dormir,dormir...
Cavando, buscava vida onde faltava oxigênio...
A rua já não representava nenhum atrativo,ela já experimentara numa vida pregressa, relações humanas, achava até que já tinha amado, mas agora, só conseguia sentir segurança sozinha, sendo eventualmente acometida por lembranças que não podiam machucá-la mais...nem menos. Em meio à obscuridade de seus pensamentos, a ponta de seu dedo indicador sangra ao ser espetado pelo espinho de uma rosa murcha e amarela. Uma gota do sangue é tragada pelo âmago da terra...Vida?
Mais tarde, deitada em sua cama, vislumbra a beleza vazia da lua cheia, aquela imagem carregara outrora inúmeros sonhos vãos e agora, não representava mais nada. Seus olhos pesados não fechavam, o cansaço dos anos não permitia a ela criar imagens de felicidade antes de dormir; então, ela não dormia mais. Ouvia barulhos daquele mundo ao qual nunca pertenceu. Ouvia grilos. Ouvia passos.Ouvia vozes.Ouvia sirenes. Só não ouvia mais a seus próprios anseios, porque sua voz calara e havia se transformado em ações práticas. Repetia mais do mesmo para não se desvencilhar de um caminho objetivo, posto que temia chegar novamente à beira do abismo.
Porém, naquela noite de frias estrelas, ela trazia dentro de si uma inquietação inexplicável. Caminhou até o espelho do banheiro e encontrou pupilas dilatadas, mãos trêmulas, um sorriso vacilante no rosto ...precisava sair dali!
Sem ao menos pensar para onde a porta aberta a levaria, irrompeu mundo afora...
Caminhava rapidamente sob as sombras da noite e, quando cruzava com algum ser, o encarava fixamente como se seus olhos fossem capazes de detê-lo. Seguia, simplesmente seguia contando os passos e as estrelas, sentindo o vento frio, ouvindo as sirenes.
As sirenes...o som agudo ecoando em sua cabeça, aquilo a conduzia. Seus olhos sofreram a fotofobia causada pela iluminação extremamente clara do ambiente, luzes brancas.Pessoas esbarrando nela próximos à porta de vidro do Pronto Socorro de um hospital público dos arredores. E ali, tudo se fundiu: sua dor se mesclou à dor e desespero de outros. Tão estranhos e tão semelhantes. Sem saber o que fazer, serenamente, ela se sentou na sala de espera...e naquele momento, era só o que importava.

domingo, 22 de maio de 2016

A história de PpK

Era uma vez, num Universo Paralelo, numa galáxia distante, fazendo tipo existente sem existir, onde vivia PpK.
Ppk sempre obteve o que precisava sem esforço, sendo assim, aprendeu a não respeitar muito a batalha alheia. Ppk ainda não sabia de sua incapacidade para pensar por si própria, ía pulando de hospedeiro em hospedeiro se apropriando do que ela precisava, no momento em que precisava. Depois, descartava o hospedeiro.
Enquanto não se apropriava de nenhum organismo suficiente para suprir suas carências nutricionais, PpK saltava de órgão em órgão...
Eventualmente, quando precisava falar sobre as agruras de ser Ppk, através do processo osmótico, se emparelhava a células semelhantes, desabafava e pedia conselhos - que nem sempre seguia. Mas isso só acontecia caso ela não tivesse um hospedeiro fálico ao qual se submeter...
Passados alguns anos, e após viajar por galáxias distantes e por Picas das Galáxias, Ppk percebeu, sem temor algum, que seu cérebro não funcionava sozinho!!!!!!!!
Constatou sem o menor espanto,plena de conformismo, que seu cérebro imitava e se submetia ao Hospedeiro escolhido...
Não! Ela não conseguia opinar sozinha, pensar por si, ter crítica ao que o hospedeiro falava ou fazia...mas, acho que ela era feliz assim...
Para sempre...porque tudo era uma questão darwinista...
Assim, evitava-se contendas, conflito de opinião, discussões sobre fatos relevantes, posicionamento sobre questões gerais que envolvem o fato de ser humano...
Mas PpK era só Ppk...