segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Desenconto 13 - Los cumpleaños...

A lua seguia minguando no espaço...o céu meio encoberto, o clima ideal e mais uma vez iríamos para o Umbral. Véspera de feriado naquele recanto do planeta e grande parte da população da floresta seguiria em busca de néctar e projeções astrais. Combinamos de comemorar o aniversário de Andreas...
Seguimos eufóricos e falantes. Ancoramos na varanda, nosso espaço preferido, de onde podíamos observar melhor a noite alaranjada de lua escondida...
Extraordinariamente, naquele dia, havia uma convidada a conhecer o Umbral. Esta pessoa estava acostumada com esferas astrais muito pesadas, piores até que o inferno...onde as pessoas restauravam em suas almas a forma mais animalesca possível e se destituíam completamente de qualquer sentimento bom...
No entanto, tratava-se de uma antiga amiga de Lilith que até então nunca traíra sua confiança. O movimento no Umbral era grande, diversos espécimes humanos e sub-humanos buscavam fuga, distração, eventos casuais ou qualquer abalo sísmico...
Andreas estava divertido,porém não perdia seu ar grave consultando o relógio feito o coelho de Alice...acho que aniversários funcionam como reveillon pessoal, onde as esperanças se renovam e queremos da vida o melhor presente possível.
A quantia de néctar que circulava em nossa mesa, nossas mãos e nossas bocas era infinita. Nossas línguas se enrolavam nos discursos que tentávamos estabelecer e, de certa forma, conseguíamos nos entender...
Lilith percebe então coisas estranhas a seu redor...a verdade perante seus olhos é quase inacreditável...sua amiga literalmente se jogando no colo ( literalmente!) do aniversariante. Talvez, ela quisesse dar de presente a ele mais do que uma conversa agradável...
Nesse momento, Lilith resolveu deixar seu corpo sentado a mesa e acabou levando a alma para outros lugares: uma fonte, uma nuvem, a lua, o colo de sua avó e Marte...qualquer fuga era melhor do que testemunhar o que estava prestes a acontecer. Até porquê, ela nada poderia falar, nada a fazer; aceitar sorrindo seria a solução mais madura para encarar aquele jogo de copos e corpos cujo final era óbvio...
O chão tornou-se escorregadio aos pés descalços de Lilith...e ela buscava apoio segurando nas bordas da mesa, sem paz interior,mas com o sorriso estampado no rosto.
O relógio cuco instalado no telhado do Umbral , enfim, anunciou a meia-noite! Ao som de um blues, abraçamos Andreas desejando dias melhores, e se possível, a felicidade inteira e tão almejada ( contanto que não fosse a amiga de Lilith!!!!!). Talvez, alvejado por certa emoção que acomete os aniversariantes que comemoram no Umbral, Andreas trocou abraços e palavras carinhosas com cada um dos amigos, foi um momento que pareceu bem verdadeiro aos olhos de Lilith, ainda que parte de sua alma estivesse em Marte...
A amiga de Lilith confundia o Umbral com os lugares malignos que frequentava, onde não havia respeito ou consideração por uma longa amizade. Tudo bem, a antiga sabedoria das tabernas preconizava que "é a vida", de qualquer jeito temos que encarar...
Repentinamente, o Umbral estava infestado pelos espíritos malignos que acompanhavam a amiga de Lilith. Todos ficaram alterados,até Malu e Johnny se desentenderam...
O céu mudava de cor,alternando o laranja com um roxo funesto...Lilith disfarçava a ansiedade e a raiva...pedia que aquilo tudo fosse uma ilusão de ótica causada pela alternância das cores no céu!Sem que Lilith percebesse como ocorrera, Gaudério estava agarrado à amiga de Lilith!!!Num salto improvável, sua alma retornou a seu corpo...e com alívio, ela entornou um caneco de néctar bem gelado. Ela ainda não estava preparada para encarar a verdade, às vezes isso leva tempo...
Malu percebeu a recente aflição passada pela amiga e convidou ela e Andreas para irem recarregar as energias numa caminhada pela parte íngreme da floresta, isso seria restaurador. Caminharam mais do que haviam previsto e acabaram parando na casa de uma velha conhecida, onde Malu e Lilith saciaram a fome com pães recentemente assados. Já Andreas, preferiu carregar seu pão num saquinho pardo e seguiu caminhando floresta adentro, sem olhar para trás, rumo sua casa...

domingo, 27 de dezembro de 2015

Sobre 2015...

Ano que teve de tudo! Indiferença em alguns momentos, ódio e rompimento, o inferno abissal, o amparo fraternal, paixões simuladas e dissimuladas, amizade, momentos intensos e ilusórios, sonhos mesclados à realidade...
Aparentemente, aprendi a viver mais e esperar menos ( errado???), caí no clichê de "um dia de cada vez" para escapar de planos a longo prazo ( terei longo prazo???). De quebra, descobri mais sobre mim, levando em conta todas as loucuras cometidas em 2015, por fim, concluo que não cheguei a causar danos a quem não merecesse, e muito provavelmente, os maiores danos foram causados a mim mesma ( irônico!!!!).



Lutei arduamente para manter o fingimento e armadura de um outro ser que não era eu...acontece que com essa postura ( ou seria descompostura???), afugentei quem eu não queria, não devia, não podia...
Mas sempre haverá o dia seguinte ( até que a morte nos separe rs), e por vezes a lua cheia iluminou a estadia terrestre...e melhorou bastante a paisagem.
E no meio do turbilhão que se chama vida, os sonhos e a esperança ressurgem para atormentar a minha nada pouco angustiada existência: pelas incertezas todas, sobre o peso de me sentir insuficiente ( odeio essa palavra!), lidando com o gasto exacerbado de energia administrando a solidão ( Eita, besta-fera!!!!), na tentativa de escolher o que é impassível de escolha...
Tem a busca por relações equilibradas, e digo no contexto geral. Daí, você acorda e percebe que isso não existe e que uma parte sempre oferece mais; nem todos estarão ao meu lado quando eu precisar de colo..e aposto que a maioria me acha autossuficiente nesse quesito também (hahahaha!)



E daí? O que importa? Nada importa. Certas coisas continuarão importando apenas no meu inferno e paraíso particulares...
Os outros sempre serão os outros e a humanidade inteira tem uma tendência a ver o "outro" da forma que for mais cômoda e demandar menos trabalho e dedicação. Então, em meio ao meu conto de fadas e terror, para uns serei forte, ora uma comediante, ora uma porraloka, por vezes uma revoltada, ora um bebê chorão, uma mulher inteligente, um fantoche, ora uma manipuladora, alguns momentos uma desequilibrada emocionalmente...ou completamente perdida no labirinto!



E a vida segue sua adaptação sobre o que seria ideal, vai mudando, afastando, aproximando...encerrando certos ciclos, iniciando outros ( eternamente???)
E sigo! Fazendo perguntas parada em frente ao espelho, daquelas que quase nunca tem alguma resposta objetiva. Assim, muda-se o elenco, conhece-se uma nova filosofia, escreve-se novos contos...
Porque a vida sugere comparações esdrúxulas com outras histórias ( felizes???) e com parâmetros de felicidade ideal para cada biotipo, idade e preferências na TV a cabo...só que, caros navegantes, o que temos é apenas e tão somente a realidade ( Sim! A incomparável! Individual! Intransferível! Única!) e é com isso que terei que lidar...também em 2016!

Vida longa ao rei!!!rsrsrsrs

sábado, 26 de dezembro de 2015

Porque no meu mundo esquisito e incompreendido pela maioria, a música fala mais do que palavras sem sentido...
Porque a cada ano, quero renovar a minha trilha sonora, deixando para trás o repertório que já não me cabe...
Porque desejo a cada um, que também renove sua trilha, trancando o que não presta numa mala velha e jogando no mar...
Que venha então, o ano novo, com trilha nova, com novas trilhas...

domingo, 20 de dezembro de 2015

Missiva: Johnny

São Paulo, todas as noites legendárias, de 2015.

Johnny...

E eis que quando não esperamos mais tantas surpresas, no sentido agradável da coisa, surge um irmão como você na minha vida!
Passamos tantas experiências juntos nesse ano,e no resultado da equação, posso dizer que sou grata pela amizade que há entre nós.
Você é o cara que me dá bronca, me incentiva, estimula e ,ainda que não goste de muitas coisas, aceita minhas loucuras todas...
Apesar de você não acreditar em destino, sei que se por algumas horas você se transformasse no Senhor do Destino, certamente desenharia uma história bonita para mim...
Os momentos contigo podem ser tudo: divertidos, sérios e cheios de papo nerd kkkkkkkk
E independente de ter ou não Power Dreher na parada,tem a capacidade de fazer a diferença!!!!
E que venham muitas noites, tardes e manhãs legendárias nas nossas vidas!!!!!

Adoro ocê!!!!!!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Missiva: Gus

São Paulo, ou Nárnia, de 2015.

Gus...

Você nunca lerá isso, até queria escrever mais, mas...o seu nível de entendimento de discursos é bem reduzido, diria nulo...
Tento desvendar em você , o segredo... lembra do segredo de Tostines?( pergunta retórica...).É fresquinha porque vende mais ou vende mais porque é fresquinha?
No seu caso seria: se entorpece mais porque não tem neurônios ou não tem neurônios pelo tanto que se entorpece???e
Sei lá, ao menos no plano das ideias, ficaria feliz se você soubesse quem você é e se tivesse uma vida real com que lidar. Saindo dessa névoa poeirenta ridícula para garantir auto-estima...

Enfim...é tudo ( e sei que é muito...)

How soon is now????????????????????????????????????????

Gosto...

Grata por ter sido apresentada ao som desse cara...

Missiva: Dexter

São Paulo, sua presença sempre que precisei de um abraço, de 2015.

Dexter...

Você é apenas um garoto ( como você mesmo fala rs),mas tem atitudes de homem! Sabe como ninguém proteger e cuidar...
Nem imagina o quanto os encontros fortuitos pelas noites de 2015 me fizeram bem, pois sempre chegava com o abraço mais envolvente! E sabe do que mais? Quando eu mais precisava...
Ficou e ficará sempre em minha memória o dia dos namorados, no qual você foi o cara que me desejou que aquele dia fosse bom...e foi! Porque você reservou o melhor carinho...
Soube impedir o avanço do chatos que frequentavam o Umbral, como um autêntico cavaleiro!!!
Admiro pacas o fato de você não ter vergonha de se comprometer, seja em amizade, seja com seus ideais.
Você é uma pessoa linda e tem tantas coisas a conquistar...tem tanto talento...basta tomar as rédeas e conduzir seus sonhos rumo a realidade...
E eu torço muito por isso!!! De coração...
Além disso, sua companhia é delícia!!! Para assistir filmes, para rir, ouvir você tocando, lavar louça...porque café é coisa de velho kkkkkkkkkk


Te gosto!

P.S.: Aldous Snow forever!!!kkkkkkkkkk

Missiva: Andreas

São Paulo, numa redoma de vidro conversando pacas, de 2015.

Pô Andreas...

Naquele momento em que te conheci, não tive a real noção de como me mudaria ( ainda que você viva afirmando que eu não aprendi nada com você rs). Gostei de te ver ali, de me aproximar...
Não posso falar que a única coisa que me atraiu com relação a você tenha sido sua inteligência,mas creio ser uma afinidade inexplicável aos olhos da razão.
De verdade? Adoro ficar ilhada conversando com você!!! Dentre outras coisas...
Nós vivemos um lance meio "cabo de guerra", no qual você puxa impiedosamente, às vezes parece que só pelo prazer de me ver estatelar no chão...
Mas não caio e não deixo de admirar tudo o que existe de fantástico aí dentro de você e que ainda não encontrou uma porta para sair. Se não for pela porta, deixa que tudo isso daí de dentro, salte o muro mesmo...
Por menos convencionalidade: pular o muro e rir muito da cara da vida!
Você é bem intrigante, nem Jesus na causa:

Faz o jogo e me oculta regras...(no jogo eu amooooo as verdades!Elas todas!)
Parece irreverente,mas tem um lado careta pesadíssimo!!!rs
É capaz de ternas demonstrações de carinho e diametralmente, capaz de rasgar o verbo fora de contexto algum...
Tem uma relação familiar linda...
E tem péssimo gosto para nomes rsrsrsrs


Discordo! Nem tudo está tão errado assim! Creio que num percentual generoso, tivemos mais acertos que erros. Sei lá, posso estar sendo egoísta,mas você não tem noção do quanto me ajudou na transição pela qual passei neste ano...

Espero que não se assuste com estas palavras,nem escrevi tudo o que pretendia...
Que não interprete como apelo...é só uma carta de gratidão por ter contribuído para tornar meu 2015 inesquecível...e legendário.


Te gosto um tanto...

Lilth ( a original!!!rs)


quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Missiva: Rita

São Paulo, a luta continua companheira, de 2015.

Rita!!!!

Sua energia expande pelo ambiente e mesmo cansada, posto que sua luta é árdua, jamais perde o brilho...
Admiro sobremaneira sua postura combativa perante as injustiças do mundo, age heroicamente, confrontando tanta coisa errada nesse mundo torto da gente.
Corajosa até no amar,compra a briga por tudo o que acredita, mostra a força feminina em todas as instâncias!
claro, tem aí dentro,mais fragilidade do que a maioria supõe. Afinal, somos experts em jogar uma máscara no rosto e deixar que rolem acontecimentos e pedras...
Sua força me fortalece, sabia? Porque para concretizar a felicidade, seja ela do jeito que vier, você não vê empecilhos, já que não é preconceituosa com relação a nada...isso conforta, de repente tem mais pessoas por aí que pensam e agem como você. O mundo seria mais leve...
Ainda bem que você tem um belo herdeiro para passar seu legado!!!!!
Só preciso muito que me conte qual o segredo??? Aquele que faz com que tuuuuuuuuudo o que você come se dilua num Universo Paralelo kkkkkkkkkkkk

Amo-te!!!!

PS: Mas não amo o Homem-aranha kkkkkkkkkk

Missiva: Gaby

São Paulo, quase morando comigo, de 2015.

Gaby...

Você é a mais ingênua, carrega o coração puro, ainda que algumas criaturas do mal tenham querido mudar isso...
Nossa amizade surgiu a partir da confiança, o carinho, a cumplicidade e as noites ( inúmeras delas!) dormidas juntas. Amo seu bom humor, ainda que saiba que você tem seus momentos de introspecção e acho válido: aqueles momentos em que reflete sobre o rumo de sua vida.
Dizer que você é linda, creio ser redundante! O melhor é que sua beleza é de dentro...
Você consegue se doar numa amizade e dividir seu tempo entre amor e amor-amigos...admiro muito isso numa pessoa! Sei que muitas vezes, ainda que você não fale, se preocupa com a minha solidão e faz questão de estar comigo: tomando cerveja, rindo, comendo ( que você adora,né?), levantando as possibilidades todas de passado , presente e, até, futuro...
Você é doce...obrigada pela amizade e por alegrar muitos dos dias loucos de 2015. Mudamos em tanta coisa, deixamos para traz o que já não nos servia e, principalmente, não deixamos de estar juntas!!!!
Você é minha discípula kkkkk....minha Júniar kkkkkkkk
Que possamos seguir juntas nos próximos anos todos de nossas vidas e que esse amor-amizade aumente sempre!!!


Te amuuuuuu!!!! Exatamente...rsrsrsrs


Missiva: Eduarda

São Paulo, Paleleilos, Marte...qualquer lugar em que encontremos respostas, 2015.


Eduarda,

Já não podemos mais nos considerar amigas, pois a vida me premiou com uma irmã para todas as horas...
Quantas vezes jogadas no chão pela vida, quantas vezes tentando entender, quantas vezes reacendendo as esperanças?
E após tudo o que só nós sabemos uma da outra, ainda conseguimos rir de tudo...ainda que parte do tudo, daquilo que tinha significado naquele momento,hoje não mais...
Só posso agradecer por me apoiar em seu ombro e me ajudar na travessia, por vezes tão dolorosa, da vida. Só quero que a vida seja mais "de boa" e que daqui em diante, possamos rir , mas aquele riso pleno de satisfação e alegria por termos superado todos os percalços e alcançado o que nos faça feliz!!!!!
Ganhamos algo além das cicatrizes? Sim!!!! Autenticidade, realismo, força e coragem...
Desistiremos??? Jamais...por mais cansadas que estejamos em certos momentos, surge sempre uma nova possibilidade e embarcamos...
Gratidão pelos cafés nas madrugadas frias e chuvosas(rs), pelos xoxos partilhados, pelo estímulo, pelo riso, pelas tentativas de entender minha vida amorosa (rs)...

Te amoooo!!!!

Lilith

Missiva: Malu

São Paulo, hoje e sempre, em 2015.

Malu,

E quando menos se espera da vida, ela vem e nos surpreende! Nossa amizade, este amor imensurável, foi um dos melhores presentes deste ano...
Cúmplices nos momentos de questionamentos, de alegrias, de surpresas, de expectativas, de sonhos, de indecisões, de loucuras inofensivas...
Você não me deixou cair, segurou firme em minhas mãos quando eu estava na beira do precipício! Nunca mais me senti tão só...
Pôxa! E como você é capaz de entender minhas neuroses, todas elas, sem me julgar! Acompanha minhas escolhas, na maioria das vezes guiadas pelo meu coração peludo, apoiando tudo o que me faça bem. Andamos juntas, e quando a brasa da minha fé apagava, você assoprava...
Creio que tomamos o equivalente a uma tonelada de café neste ano! Em momentos comuns,mas que, por se tratar de nós duas foram plenos de lucubrações, pirações, choro, riso...
O que falar das noites legendárias,então? Noites escuras em claro, manhãs escurecidas pelo sono ( que no caso, me falta!rs), tantos pensamentos obscurecidos pela dúvida, tantas certezas vãs, tantos passos em direções diversas e alguns esclarecimentos que chegavam com a luz do sol...
Obrigada minha amiga por me ajudar na fé por dias melhores...mesmo que eles não venham kkkkkkkkk
Obrigada por me aturar nos dias de TPM...isso não é pra qualquer um kkkkkkkk
Obrigada pelo abraço que nunca faltou!!!!!!!!!!!!!!!!

Te amo!!!

Lilith

Missiva : Aderbal

São Paulo, qualquer dia insignificante de abril,2015

Prezado Aderbal,

Lamento por mim: tempo perdido, história inventada e sustentada só por mim, tardes vazias e longas pela espera infrutífera, 4 anos e lá se vão mais dias esperando por algo pertencente só à minha imaginação...
Não, não me arrependo por nada, teve momentos ilusórios bons e momentos de autêntica maldade. Mas, tudo é crescimento,né? Como você dizia: "É a vida..."
Você não faz mais parte dos meus contos, nem da minha vida. Te citei em um por sarcasmo inevitável...
Sua história nunca foi minha, e a minha está livre para ir por onde quiser...
Saí do casulo, agradeço por me levar a revelar a pessoa que sou, sem máscaras...só eu!
Não posso ser ingrata, até que foi bom num nível egoísta, na medida que me ensinou a não temer sentir...
Agradeço imensamente por me auxiliar a partir e viver a próxima história! E eu vou lá,sabe? Com intensidade e paixão, porque não há tempo a perder...não mais.
Quanto a minha nova história? Sei lá: Drama? Romance? Comédia? História em quadrinhos? Comédia? Terror? Suspense? Não importa...nunca fui covarde...
Ah! Também não precisa agradecer por eu ter te libertado de sua mentira,ok? Foi uma gentileza pelo bem que me fez...
Imagino o alívio após ter saído da câmara da hipocrisia! Te saúdo!
Eu segui, sigo, seguirei...

Ass: Lilith

P.S.: Na boa? Vou te soterrar em 2015...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Desenconto 12 - Dia dos namorados ou quase isso

Definitivamente a vida amorosa de Lilith parecia estar fadada a ser mais ilusória do que real. E naquele momento de masturbação mental, tudo o que ela queria era uma dose de tequila, outra de realidade e alguém válido em quem pensar...
Edmondo sumiu! Ele e seu nugget...Usou tantas frases clichê que se transformou num ratinho desaparecido no esgoto.Provavelmente resida no mundo subterrâneo, prestando serviço escravo a Hades e Prosérpina! Hahaha!!!!
Um estranho sentimento invadia a alma de Lilith, não havia mais graça no ensaio que vivia." Atenção!!! Valendo!!!" Era tudo o que ela precisava ouvir. Quantos anos a mais de estágio seriam necessários para que tudo fizesse sentido, para que sentir fizesse sentido. Concluía que , desesperadamente, precisava sair da sala de espera de sua própria vida. O grande e crucial problema era que seu interesse afetivo-sexual-amoroso era despertado por homens que não estavam lá verdadeiramente. Acabava que rolavam momentos intensos, muitos deles; porém fortuitos em sua maioria. Quando através do contato, se interpunha entre ela e algum "ele" uma brisa intensa, o jeito era sorver até nada mais restar.
E apoiava os cotovelos na mesa e saia anotando recados para ninguém ler, falando alto consigo mesma, rindo de histórias fictícias que insistiam em morar na sua cabeça, no pane elétrico de suas conexões sinópticas, tentava estabelecer conexões improváveis...muito sozinha.
Não bastasse a rudeza dos fatos, comemorava-se naquele dia, o dia, daqueles que namoravam ou quase isso. Data comercial, sem importância, mas a grande maioria dos que corroboravam estas opiniões, raramente andavam sós.
Lilith estabeleceu contato com Gaby, Rita, Gil, Gaudério, Malu e Johnny. O destino???? Umbral!!!!!
Só por mais uma noite a tentativa sola de esquecer passado e abdicar do planejamento referente a coisas que se estendem além de seus próprios narizes!!!
Lilith sabia que a presença de Gil seria a garantia que ela precisava de diversão despretensiosa...
Encontraram-se, beberam néctar, riram e após um largo tempo de Umbral, precisaram seguir a pé para o Inferno. Todo o vento da noite os empurrava para lá...
Atravessaram a floresta esbarrando em seres alados e corujas; deixando pegadas para ninguém seguir...
Sobre a senha de acesso ao Inferno???? Óbvio que Gaby com seus dons de adivinhação, foi capaz de decifrá-la imediatamente ao chegaram ao primeiro portal. Havia tochas iluminando a entrada, havia um corredor obscuro, pessoas de diversos universos paralelos estavam tentando acessar o Inferno...
Os amigos entraram juntos na primeira câmara infernal, uma banda de garotos tocava com empolgação, hipnotizando os presentes com seu "magnetismo" e os obrigando a fazer o que eles sugeriam. Várias pessoas despidas, andavam sobre um corredor onde ardiam brasas em chama.
Gaudério foi um dos afetados pelo poder dos garotos que tocavam, porém ninguém do grupo percebeu quando suas pupilas dilataram. Só perceberam quando Gaudério, tomado por uma força maligna, abduziu Rita e a transportou para a próxima câmara infernal...e por toda a noite, não foram mais vistos. A ação foi rápida e repentinamente, deu-se o afastamento gradual do casal, enquanto uma névoa expelida no ambiente, alterava os sentidos dos demais presentes. Era quente, divertido. Pisavam num chão gosmento que derretia sob seus pés descalços. Malu quis sair um pouco, queria tomar o ar da noite junto com Johnny. O casal encostou num dos pilares da varanda do Inferno. Saíram derrubando alguns dos espelhos que se espalhavam em múltiplas dimensões. O acesso para o corredor estava lá e se afunilava...e Lilith pairava dentro dele, sem saber como fora parar ali. Gil saiu de um fragmento de espelho e puxou Gaby pela mão,oferecendo a ela um néctar que havia conseguido no Submundo Invertido do Reflexos Convexos...era uma bebida única. Encontraram Lilith, que também sorveu o líquido viscoso e saboroso.
Em poucos minutos, os três ficaram mais voláteis e menos controlados com relação à manipulação de mentes. O dia dos sem-terra terminava...
Num breve piscar de olhos, enquanto conversavam entusiasticamente, perderam o controle e sem querer se teletransportaram novamente para o Umbral. Gaby e Gil riam ininterruptamente e, neste ínterim, Lilith entregou seus olhos e lábios a Dexter. Veio um abraço acolhedor, poucas palavras, beijos intenso e um desejo de "Feliz Dia dos Namorados" dito carinhosamente por Dexter...
E ele nem sabia...
E sequer desconfiou...
E surpreendeu...
Porque fora o único que lembrou...em muitos anos,

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Little finger ou Desenconto 11

Seria exaltar cedo demais os fatos do destino ou realmente estava acontecendo algo diferente na semi-vida amorosa de Lilith?
As conversas telepáticas com Edmondo eram diárias, o tipo de atenção que ela sempre quis e nunca admitiu. Seguiam mútuas pequenas descobertas, bobagens que os faziam rir à toa, filmes preferidos, músicas marcantes e todo o tipo de baboseira que compõe os parâmetros de um envolvimento gradual e completamente enquadrado nos parâmetros sociais.
Malu ouvia as confidências de Lilith a respeito de Edmondo e se empolgava com o andamento da situação,procurando incentivar a não tão entusiasmada amiga.Não havia muita crença e nenhuma paixão, havia apenas a necessidade de viver algo "adequado"!
Não daria para negar que a atenção diária recebida por Lilith, a engrandecia...fazia com que lembrasse de como era bom ser lembrada e de certa forma, cuidada diariamente.Desde que Aderbal morrera, Lilith havia esquecido de como era bom estabelecer um contato contínuo, constante com alguém...
Porém, quaisquer conclusões, seriam um tanto prematuras, posto que ambos ainda não haviam se recolhido ao Chalé D'Azur.
Desta vez, Lilith não anteciparia nada, tudo de acordo com os caprichos do Senhor do Tempo...
Que Edmondo tomasse a iniciativa de levá-la ao chalé, que a cortejasse como há tempos ninguém fazia...
A situação toda tinha lá seu charme, só não havia paixão...
Quem sabe paixão fosse um sentimento dispensável e facilmente substituível por amizade e consideração?????

Certa noite de quarta ou quinta, encontraram-se Johnny, Malu e Lilith,como de costume, no Umbral. Lilith tivera uma forte premonição de que encontraria Edmondo por lá. Confirmou sua desconfiança com sua amiga vidente, Gaby.
Não demorou muito para que Edmondo chegasse, porém ele cumprimentou uns amigos dele,habitantes da Cratera Lunar Natalina e acabou sentado à mesa deles, no canto mais escuro da varanda. Não demorou muito até dirigir-se a Lilith.
Naquela noite, Johnny e Malu deveriam ir embora antes do nascer do sol e tal fato acabou por gerar uma enorme ansiedade em Lilith...ela teria que ficar a sós com Edmondo.
Malu não entendia o porquê de tamanha insegurança e , a bem da verdade,nem Lilith conseguia explicar.Talvez não quisesse ficar distante da proteção dos amigos, talvez seu coração não quisesse estar ali, talvez o medo de nova decepção velha, talvez receio de não querer ser...
Chegou a hora! Malu e seu amado se foram, tinham que partir. Johnny deixou uma reserva energética com a amiga, caso ela necessitasse.E ela precisou...
Ficou a mercê da sorte e entre Edmondo e seus estranhos amigos crateirenses. Óbvio que o papo fluiu, afinal conversar era uma das habilidades herdadas por Lilith. Ainda estava bastante incomodada por não poder compartilhar com os amigos, o momento do renascimento do sol para aspirarem ar hélio e renovarem a esperança guardada em suas respectivas caixas...
Edmondo não esperou muito a tomar a iniciativa e levá-la até o chalé D'Azur. Seguiram abraçados e a mente de Lilith divagava por outros mares...
Apesar das atitudes supostamente românticas de Edmondo, que de certa forma preenchiam os ideais de Lilith, havia algo que não se encaixava, aquilo tudo parecia bem hipócrita: frases feitas e atitudes calculadas demais!
Quem seria Edmondo,afinal? O grande?Grande em quê?Perguntas que por hora, ficariam sem resposta alguma.
Lilith não pretendia estragar tudo com seu excesso de questionamentos e preferiu acreditar que suas máculas antigas conduziam aquela impressão negativa a cerca de Edmondo. Deixou-se ir...preferiu deixar acontecer...preferiu absorver-se no anoitecer.
Uma luz vermelha se acendeu quando os dois chegaram à porta do chalé. Seria um daqueles sinais? Poderia sim! Havia 50% de chance de ser um sinal da Ordem...
Antes de entrarem no chalé, tiveram que se despir e passar por dentro de uma câmara higienizadora de corpos e inibidora de expectativas.
Edmondo era bom em descobrir recantos em Lilith que não eram explorados desde seu contato com Simonetti. Ao olhar melhor para Edmondo, porém, Lilith se assustou e perdeu os sentidos!!!!
Havia um camundongo minúsculo e subcutâneo instalado no baixo-ventre de Edmondo!!!!
Era medonho!!! Tão,tão,tão pequeno e asqueroso! Sua repulsa causou uma reação química em Edmondo que o fez explodir e na sequência se transformar ele todo, no pequeno camundongo...
O ratinho então, antes de desaparecer para sempre, apresentou-se. Seu nome era Little Finger...convenhamos, tão esdrúxulo quanto sua figura.
E então, Edmondo-O grande revelou-se bem,bem,bem pequeno...

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Desenconto 10 - Edmondo, o Grande

A respiração contínua embaçava os óculos de Lilith, enquanto ela se distraia lendo notícias frias do século passado. Passava dias inteiros interagindo telepaticamente com Malu.Ambas conseguiam sentir o que se passava na alma da outra e , por hora, não havia muito a ler em Lilith,pois ela havia se esvaziado.
Malu fazia de tudo para restaurar a esperança de Lilith na humanidade perversa que vivia nos arredores da floresta.
Sem um resultado satisfatório, procurava outras maneiras de empolgar a amiga.
Horas passavam, o céu róseo transformando-se em negro velozmente e, então Malu subitamente, decidiu que seria uma noite propícia para uma breve estada no Umbral. Convocou Lilith para mais uma reunião...
Lilith estava cansada da imagem de adolescente fútil que seu traje constante a emprestava,precisava abandonar momentaneamente o shorts jeans, então escolheu dentre suas roupas, um vestido solto e discretamente estampado.Prendeu os cabelos displicentemente e, de cara limpa, seguiu para o encontro agendado mentalmente com Malu, Johnny e Andreas. Ao sair, antes de fechar o portão de sua casa, avistou ao longe que, ao pé de um baobá, se impunha a silhueta da farta cabeleira de Malu, fortemente abraçada a Johnny.
Seguiram juntos e , ao longe, identificaram Andreas de pé na varanda do Umbral, esperando calmamente por eles. Claro estava que todos estavam dispostos a passar bons e divertidos momentos juntos. E, apesar da apreensão de Lilith com relação a Andreas, a situação demonstrava que a afinidade entre eles não perecera junto ao ideal romântico, recentemente, afogado por ela no Lago Ness de seu pensamento.
Sob a iluminação indireta de naves que estacionavam no jardim do Umbral, a conversa entre os amigos, alternava momentos intensos a outros completamente leves. Malu reparou então, que um homem extremamente alto e um tanto desconhecido por elas, olhava insistentemente para Lilith.Prontamente, enviou uma vibração para a amiga...
Num primeiro momento, Lilith nem se preocupou com os tais olhares, já que encontrava-se tremendamente envolvida na conversa sobrenatural que desenvolvia com Andreas. Mas, seguindo uma imposição interna de olhar adiante, acabou observando melhor o ser que a mirava com atenção e enlevo. De imediato, ele recebeu os olhos dela com um belo sorriso, então ela permitiria a aproximação...
Quem sabe pudesse ser "adequado" aos ditames sociais? Ele parecia ter sua idade terrestre...
A armadura ficou em casa, mas a máscara continuava na bolsa para situações emergenciais. Colocou-a e ambos aproximaram-se. Conversaram um pouco e Lilith achou o cara razoavelmente inteligente, isso contava pontos. Constatou que ele não acreditava no sistema político vigente e que deixara de acreditar no comandante do Universo: o Óh Venerável Acaso!O encontro fluiu leve, mas Lilith preferiu voltar à mesa com os amigos, já que lá sentia-se segura e à vontade. Malu puxou-a pelo braço e se isolaram numa cápsula metálica privê para poderem se comunicar telepaticamente sem interferências de outros mundos.
Malu expressou integral apoio à aproximação que se dera entre Lilith e o cara, declarando que achou ele bonito e enquadrado nas especificações vigentes no atual governo universal. Lilith não se entusiasmou muito,mas se enquadrar poderia ser útil e funcional, talvez trouxesse a ela um pouco de paz e sono.
"Dane-se!!!Por que não?"
Quando ambas saiam da cápsula,após um breve colóquio, Lilith sentiu uma mão forte que a puxou.Sem proferir palavra alguma, Edmondo ( ou "o cara")começou a beijá-la - com certeza, ela não poderia reclamar de falta de iniciativa. Um leve torpor invadiu os sentidos de Lilith e sem ter mais onde se agarrar, deixou levar-se por aquele momento. Um corrente de elétrons escapava dos corpos de ambos e se manifestava efusivamente pelo ambiente, fato que mostrava que havia uma certa interação química acontecendo entre os dois.
Claro, acabou ficando preocupada pelo que Andreas pudesse pensar. Porém, nesse momento, Andreas que a tudo acompanhara, enviou uma vibração telepática de alívio e felicidade, afinal o que prevalecia entre eles seria sempre a amizade...disso, ele carregava uma certeza absoluta, quase divina.
Agindo como uma perfeita dama adaptada à clausura dos campos sociais de concentração, Lilith se desvencilhou de Edmondo-O grande e rapidamente juntou-se a seus amigos. Quando olhou em direção aos salões imperiais do Umbral, Edmondo havia sumido.
O dia voltou, trazendo sol e mormaço. Pode ser que o encontrasse novamente, pode ser que fosse ele seu exercício de adaptação, pode ser também que perdurasse pelos séculos seguintes, lendo notícia mortas...

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Desenconto 9 - Sobre amanhã a noite...

Tudo certo e operante! O dia continuou se transformando em noite, e as noites em manhãs que quase sempre provocavam os sorrisos displicentes e saudosos de Lilith e Malu.
Malu estava muito mais leve e tranquila,já não a atribulavam os espíritos errantes que vagavam pelas florestas vizinhas. Encontrara uma nova amizade e , ao que tudo indicava, verdadeira. Óbvio que existia "algo a mais", mas , de acordo com o poeta, a mais nobre forma de amor é a amizade.
Lilith por sua vez, voltara a se esconder nos escombros de sua antiga armadura e precisava como nunca, sair e sentir-se viva naquele final de semana. As amigas se comunicaram telepaticamente e combinaram um novo encontro no velho Umbral. Malu aproveitou suas habilidades decorrentes de sua hereditariedade celta e emitiu sinais propagados no ar para convidar Johnny, Gaudério e Andreas.
Em sua casa, Lilith despiu-se cuidadosamente de sua armadura e contava os segundos para gozar de um pouco de liberdade.Precisava se apartar um pouco, por poucas horas, daqueles pensamentos que se projetavam e passeavam o tempo todo e em todos os cômodos de sua casa. Apesar de conviver com este fenômeno desde os 5 anos, ainda era difícil acostumar-se com a visão materializada de suas projeções mentais, fossem elas lembranças ou esperanças. Não, ela não tinha o dom de prever o futuro. Esse presente denominado vidência, o Grande e Soberano Acaso, havia guardado para sua amiga Gaby...
Encontraram-se então, montados em seus respectivos cavalos, nas imediações do Umbral. Andreas e Gaudério,acabaram não aparecendo, pois tinham ido encontrar umas fadas gordinhas que haviam conhecido dois dias antes...
Malu e Johnny, logo se enturmaram com alguns clientes que faziam demonstrações de habilidades cinestésicas. Johnny era fascinado pelo mundo da magia e, quase que instantaneamente, aprendeu quase todos os ensinamentos que lhe foram passados. Os dois se divertiam muito e contribuíram para tornar aquela noite legendária.
Tão entretidos estavam, em meio a suas conversas e bebericando novas porções que lá eram oferecidas, que não perceberam quando um vapor esverdeado invadiu vagarosamente o Umbral.
Repentinamente, uma porta metálica surgiu por detrás névoa e começaram a surgir, um após o outro, ícones do rock declarados como mortos!!!!! Vieram Freddie, Michael Hutchence, Kurt Cobain, Raul, Cazuza e claro, o John Lennon. A comoção tomou conta do Umbral, causando furor nas fadas septuagenárias que tomavam seu famigerado chá das 03h03.
O grupo de amigos, imediatamente, aproximou-se dos ídolos que surgiam, perguntando sobretudo, como havia sido a travessia. Exceto Lilith, já que não suportava o Beatles e consequentemente, o chato do John Lennon ( exceto pela música Jealous guy!).O líder voltara em carne, osso, alma,história e óculos. Lilith fez um muxoxo e seguiu para a varanda a fim de respirar o ar da noite alaranjada, já que aquele vapor inalado,não fizera bem a ela.Acabou por acender um cigarro funcional, daqueles que pode-se fumar a noite inteira porque ele se regenera. Mal pôde perceber quando John - O Lennon se aproximou. Lilith tinha o defeito de ser muito educada e permitiu que esta aproximação acontecesse, sempre dava aos outros a oportunidade de se provarem essenciais à vida dela e melhores do que ela supunha. Ainda com expressão contrariada, ouviu as declarações de John sobre o Além Vida, sua experiência na Terra, sua inspiração para compor e claro, seu amor pela mocoronga da Yoko. Incrivelmente, até que o papo com Lennon- O John, foi mais entusiasmante do que Lilith desconfiaria. Em poucos minutos, conversavam como bons colegas de Umbral. O tempo, não se sabe quanto,passou e antes que Lilith pudesse perceber, John beijou seus lábios e partiu para a missão secreta na qual estava envolvido.
Lilith nem ligou, preferia o Kurt Cobain ou Michael Hutchence...mas, c'est la vie. Voltou para a área de convivência do Umbral e constatou que Malu e Johny jogavam gamão. Continuou vagando pelos milhares de ambientes que constituíam o Umbral...
De repente, uma força maligna a jogou contra a parede que se afundou, revelando um quarto escuro e sombrio. Sem reação, Lilith se submeteu àquela força,mas firmou o pensamento no seu protetor, o Guerreiro de Luz chamado Dexter. Quase perdendo as forças e sem conseguir identificar se o que via era real ou imaginário, sentiu um puxão que a teletransportou para a floresta nas proximidades do Vale dos Ventos. Quando levantou a cabeça, encontrou os olhos protetores de Dexter e se entregou num abraço comovente. Ele , sem proferir uma palavra sequer, segurou seu queixo e despediu-se com um beijo. Não seria a primeira vez que ele a salvaria...

domingo, 25 de outubro de 2015

Desenconto 8 - Recomeços...

Fosse por persistência em crer em dias melhores, fosse por birra perante a vida, fosse pela traiçoeira esperança ou pela falta da negação definitiva...Lilith continuou andando. Deixou planos e sonhos para trás e tudo o que bastava era o dia-a-dia. Trouxesse o dia um ato qualquer que ela reconhecesse como bom, era o suficiente para fazer agradecimentos em voz alta, durante o banho.
Ela tinha amigos!!! Malu estava ,como sempre, nutrindo sua amiga com esperanças vãs, posto que toda esperança é vã, já que faz parte do imaginário. Mas era desse amor que provêm da amizade que Lilith precisava. Risadas ao leu num canto ventilado do Umbral? Por que não?
Malu, Johnny e Andreas estariam no Umbral. Seria uma forma de reverenciar a amizade, rumo à transformação do ideal no real. Só que Lilith precisava se analisar e ter cuidado para não agir, novamente, feito uma fênix na TPM: jogando fogo ao redor e recolhendo cinzas alheias. Atos impensados que não serviram para finalidade alguma, apenas ocultaram mais sua verdadeira personalidade.
Parecia que Malu e Johnny estavam se dando bem...
O clima foi ficando leve no Umbral, a névoa persistente envolvia os amigos, num vapor muitas vezes tênue, outras vezes denso. Respirar estava ficando difícil, mas falavam sem parar, riam de qualquer alienígena que se aproximasse. Naquela noite, Malu não percebeu as diferentes gradações que a luz laranja da rua assumia, parecendo executar uma coreografia junto à névoa. O vento zunia frio, mas Lilith não queria estar em outro lugar...e pelo visto, Malu também não, já que permaneceu boa parte nos braços e boca de Johnny...
Ultimamente, dentre os frequentadores do Umbral, haviam muitos duendes, recém chegados do 15° círculo terráqueo da Vila Mortal. E apesar do nome horroroso do lugar de origem destes seres, eles eram bem calmos, capazes de desenvolver belíssimas argumentações. Lilith não dispensava diálogos inteligentes e acabou se envolvendo com Andreas e com um dos duendes provindo da Vila Mortal em conversas infindáveis. Sem nenhuma lógica cronológica, passaram por túneis de pensamento, lançando chamas de dúvidas e faíscas de provocações intelectuais...
Enquanto isso, nas imediações do altar do Umbral, Malu e Johnny riam muito e se beijavam mais ainda...
Amanhecia quando a charrete chegou à porta do Umbral para resgatar Johnny, Malu, Andreas e Lilith. O grupo de duendes já havia dispersado e provavelmente haviam se encaminhado para o Vale dos Ventos ou qualquer lugar que o valha. Andreas ansiava por ir embora, mas a charrete , repentinamente cessou seus trabalhos no exato momento em que deixava os amigos na porta da casa de Lilith.
Bom, ao menos seria uma oportunidade de recomeçar...estender as redes na sala e continuar a conversa. Quanto a Johnny e Malu, não perderam tempo e assim que entraram na casa, dirigiram-se para o dormitório de Lilith, alegando sono...
Através da janela, Lilith e Andreas percebiam que a coloração do céu se alterava, mas não estavam nem preocupados com isso. Já haviam entrado no caleidoscópio que criaram, entremeado pelas palavras que lançavam lá dentro...e todo o fora, de repente, deixava de existir. Era intenso ...músicas que povoavam suas cabeças foram compartilhadas por telepatia, no momento em que Lilith se lançou no colo de Andreas...iniciando um passeio infinito por seu pescoço, enquanto mesclavam suas experiências.
Malu, vez ou outra, passava por entre as redes da sala ostentando sua túnica azul celeste. Acendia um cigarro, tomava um café e voltava para o quarto. Com uma leveza quase transcendental ... e um tanto lépida. Johnny sequer era capaz de reunir forças para sair da cama. Ficara acorrentado pelo poder de Malu. Mas ainda era cedo demais para revelar certos segredos...
Fora uma boa noite, uma manhã rósea, um calidoscópio multicolorido, nova trilha sonora e um colo difícil de abandonar...

Zeca!!!!

Desenconto 7 - Sobre Lilith e Andreas,sobre Andreas e Lilith

E seguiram com a sensação de que alguma coisa havia, finalmente, acontecido. Mas seguiam caladas, porque é o melhor a fazer para não alimentar a antiga esperança de que , dentre os humanos, a vida seria capaz de colocar na vida delas pessoas boas.
Apesar de ter sentido uma afinidade muito grande com Andreas, Lilith era bicho acuado, sentia medo e preferiu não tirar a máscara. Continuou fazendo um simulacro de si mesma, pretendendo mostrar indiferença e superficialidade. Mas alguma coisa tinha acontecido, ela preferia continuar nos bastidores de sua própria vida, pois desconfiava de si mesma e de seus sentimentos. Seria melhor não esperar nada da vida, do destino ou de outra pessoa...
Muito melhor esperar o nada absoluto, o não cumprimento do compromisso marcado para segunda-feira...
Lilith sozinha, face a face com ela mesmo, não deveria e nem poderia negar a ansiedade que a invadia. Seis e pouco da manhã Andreas mandou mensagem, ele iria na casa de Lilith para um café. E nesse momento, sozinha em seu quarto e com o celular na mão, Lilith esboçou um sorriso...
Ela queria um tanto. Ele? Como saber o que outra pessoa pensa? Sabemos o que ela fala, quando fala...lembrando que a outra pessoa pode estar usando a máscara também. Como prever? Como adivinhar?
Ela sentiu que ele estava chegando e saiu de casa para recebê-lo com um tanto de coração saindo pela boca, com a alma sorridente, com tremor, com temor...beijaram-se fugazmente e entraram. Lilith queria que Andreas se sentisse a vontade. Conversaram e como da primeira vez, as palavras fluíam naturalmente, havia uma afinidade nas palavras e ideias desenvolvidas. Era encantador e assustador ao mesmo tempo, difícil acreditar na pouca idade de Andreas, pela inteligência e maturidade que ele carregava e a maioria dos homens mais velhos negava enquanto exibiam frases de um repertório superficial.
Pararam de falar por um tempo e seguiram juntos para o quarto. Estiveram calados e suados, uniram por este tempo, bocas, braços,pernas, respiração,abraços, línguas, suor, frio na barriga...êxtase e conversa, aconchego...
Houve o aparecimento do sorriso do gato da Alice, que sorrateiramente se alojou no colo de Andreas. Lilith preferiu ignorar sinais, pois por crer em símbolos inconsistentes ficara alguns anos alimentando o monstro da ilusão. Ela precisava um pouco de vida real, de presente! Cansou de viver mais tempo em seus sonhos do que na realidade. Podia ser né? Vai ver o destino terminara o rascunho de sua vida baseado em ilusões perdidas e dava uma chance de presente no modo indicativo. Melhor nada esperar e esperar...
Marcaram de se encontrar na quarta-feira seguinte, aquele grupo de pessoas que se encontrou por acaso, que se entenderam por acaso e que por acaso tinham histórias diferentes e tantos pontos em comum! O acaso havia, enfim, acertado???? Se encontraram e Lilith percebeu quase que instantaneamente o distanciamento de Andreas...mas, ela ficou brincando consigo mesma e tentando se enganar mais um pouco na tentativa de estender aquela expectativa de mudança, de acontecimentos reais...
Beberam, riram e ele se afastava. Ela precisava encarar os fatos. Era Thanatos novamente...Andreas a evitava, ela percebendo, mentia para si mesma, já que entendeu tudo errado sempre,talvez estivesse interpretando erroneamente a atitude dele. Lilith procurou se divertir, colocando a máscara da felicidade vendida em lojas de R$1,99. Colocou o óculos da escuridão e torceu para estar errada...
Todos se despediram por volta de 02h00, Andreas acompanhou Lilith carregando consigo seu distanciamento. Naquele cruzamento da Oscar Nelson com a Teotônio, ele falou calmamente sobre seus sonhos...
Foi bonito e triste ao mesmo tempo...
Andreas era realmente um homem decente, capaz de lidar com suas verdade, capaz de deixar clara a obscuridade. Ele queria mais, ela não era esse mais. Ele carregava o desejo de ter da vida o máximo possível. Ela percebeu que também podia querer...ele estava ensinando isso para ela, em poucas palavras. Fazendo com que ela resgatasse sua personalidade verdadeira, aquela que se despia da máscara...
O abraço foi apertado. Ele querendo ir. Ela querendo ficar...
Thanatos assistia a tudo, escondido na penumbra da noite, escorado da parede do condomínio vizinho...
Lilith atravessou a avenida. Andreas entrou na Oscar Nelson. Ela olho para trás. Ele não olhou...
O vento uivava e arrastava a máscara que havia caído na calçada...

sábado, 3 de outubro de 2015

Ímpar...só!

E eis que...recuperei a sensibilidade em alguns momentos nessa semana...
Chega um momento em que cada suspiro e virgula são importantes, em proporções similares...
E dia desses, olhando para a marca da sombra marcada no chão e a solidão rondando pelos lados,lembrei que há muito pouco tempo, era proibido que eu saísse sozinha...precisava de companhia para atravessar a rua e sempre conseguia alguém que fosse comigo, até a padaria..,
Agora, atualmente, vou só! Para a padaria, para o shopping, para a vida... ninguém é o suficiente para me encarar sem erros? Sem medo? Sem covardia?
Ando só, olhando a sombra que me acompanha na noite eterna e etérea...
Eu tenho coragem para espantar a sombra...teria a outra parte também?
Duvido...
Já perdi a inocência, permito que a vida prove a mim, que ainda vale a pena acreditar...
Estou mais perto da morte ou da realização?Sei lá...às vezes em que tenho que abortar sonhos, dói numa extensão tão ampliada, que não há palavras capazes de traduzir o sentimento.
Quem se importa??????????????????????
Ninguém!!! O mundo é muito ímpar para mim....

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Quebra quebra-cabeça cabeça

Algumas coisas não se encaixam porque existe um quebra-cabeça do qual vivemos perdendo peças ou simplesmente a possibilidade de encaixar as peças certas.
Quando a montagem parece estar no fim e,finalmente, você poderá gozar o grande prazer de ter alguma realização, você percebe que desde o começo, o encaixe não dependia só de você...
O Acaso, esse deus gozador, entra e sai da sua vida,escondendo peças e bagunçando seus cabelos...
E você tenta,porque imbuída de um desejo profundo de que a paisagem oculta no tal quebra-cabeça, se delineie perante seus olhos grudentos de remela.
Insiste, recomeça,improvisa,força o encaixe da peça. Faz tudo de novo, se assim for preciso, mas sempre chega o momento do grito, do arremesso das peças no ar, de levantar e seguir(mesmo com os joelhos ralados!),de rasgar o choro...desistência!
E você guarda as peças na caixa, momento frustrante. E a caixa, você coloca de qualquer jeito, em cima do guarda-roupa ( junto ao rádio-relógio quebrado). Tira da frente, mas continua lá...
Segue a vida, a sombra te segue...
Anda e vai por aí sorrindo, mas a caixa continua lá...ocultando seu sonho.
Vai franzindo a testa para o sol, e a caixa bem no mesmo lugar...
Circula por novos caminhos, nada move a caixa...
E um dia qualquer, empurrando os móveis escada abaixo, surge por trás da velha estante...a tal peça que faltou...

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Uma noite ela me disse...

A Primeira Noite Legendária - Desenconto 6

O que há afinal entre o passado e o futuro? Naquele sábado, Lilith e Malu não estavam para muitos questionamentos existenciais, aliás, o que acontecia fora das paredes da casa de Lilith, pouco interessava para elas. Achavam que tudo o que a noite podia lhes oferecer era um pouco de introspecção, cerveja gelada, música baixa, conversa amena e um breve sobrevoo pela região da Faria Lima...coisas básicas que permitiriam que ambas dormissem cedo.
Acontece que o Destino é um deus implacável que normalmente se alia com o Tempo, então a cerveja acabou rápido demais e ainda havia conversa um bocado de conversa para acontecer. Amigas que são, poucas palavras são necessárias para que o entendimento se estabeleça entre elas e sem trocar palavra, através de uma simples e telepática troca de olhares, Lilith e Malu levantaram-se do sofá e saíram em busca de mais néctar da plena luminosidade espiritual...
Olhando para o chão, enquanto conduziam a conversa infinita, os pés pareciam rápidos demais, feito borrões de uma pintura de natureza viva. A noite ao contrário, desenhava nuances em luz e sombra em câmera lenta ao redor das duas. Sem que dessem conta, se viram paradas em frente ao portal do Umbral. Óbvio que não entrariam, não podiam se atrasar para o sobrevoo na Faria Lima: voar, queimar e enfim que ressurgissem das cinzas.
Um cigarro, outro cigarro e indecisão. E então, a noite acelerou repentinamente...
Foi quando Lilith acompanhou com seus olhos a direção que tomava a fumaça de seu cigarro, e encontrou outro olhar, atrás de outra fumaça, no topo da escadaria que dava acesso ao Umbral. Era um “ele” que magneticamente atraiu Lilith...um “ele” de cabelos claros e longos, de olhar que se perdia e que Lilith encontrava, e ela devolvia o olhar com languidez e ele jogava de volta, e foram necessários poucos segundos para que Lilith soubesse que queria estar ali...
Diante da relutância de Malu, Lilith acendeu outro cigarro na tentativa de buscar uma boa argumentação para que ela acatasse sua necessidade de se aproximar daquele “ele”. Nem foi necessário que terminasse o cigarro, havia um outro cara escondido na penumbra do pilar que demarcava o portal do Umbral... perfeito para convencer Malu. E então, as duas passaram a querer estar ali...
Subiram com rapidez impressionante a escadaria que as levaria para o Umbral. Os olhares não mais se desvincularam, por toda a extensão do Umbral e por maior que fosse a distância, permaneciam conectados por uma teia energética invisível. Por alguns minutos, Malu esqueceu-se do compromisso que tinha e determinada partiu para o front daquela guerra silenciosa e travada por uns olhos esquivos no meio da noite alaranjada.
Percorriam o ambiente, voltavam para as proximidades do pilar de aceso, num misto de inquietação e paz, carregando o néctar em copos coloridos, acendendo um cigarro após o outro, trocando poucas palavras. Sem aviso prévio, num ímpeto sem igual, Malu se dirigiu ao rapaz pelo qual ela queria estar ali. Isqueiro?Sim . Era uma noite qualquer, um sábado para não sair de casa, fazendo reflexões sobre o que existe entre o passado e o futuro. Mas, alguma coisa mudaria para sempre...
E foram conversando, se entendendo ,sorrindo para a noite cor de laranja. O nível de entendimento entre eles era incrível, a paz veio com as risadas fáceis e incrivelmente capacitadas para recobrar algumas crenças já há tempos abolidas por Malu e Lilith. Não era possível mensurar o tempo que conversaram, podem ter sido poucos minutos ou uma dezena de horas. A verdade é que havia o voo, o compromisso estabelecido e as duas teriam que deixar Andreas e Johnny seguirem seu caminho. Não era o planejado encontrá-los no Umbral, portanto teriam que cumprir o que haviam prometido, iriam sobrevoar a Faria Lima, queimar e voltar das cinzas. Avisaram aos dois, na despedida dois beijos que ao certo ninguém sabe quem tomou a iniciativa com quem, importando apenas que foram muito auspiciosos.
Elas achavam que nunca mais iriam encontrá-los, eles ficaram com uma promessa pairando no ar nebuloso da noite...
Malu voou, queimou completamente e se recompôs das cinzas; tendo pleno êxito na execução do ritual. Já Lilith, se atrapalhou muito para alçar voo, queimou quase plenamente, mas na recomposição a partir das cinzas, percebeu que restaram algumas partes suas inteiras ...talvez, nunca possam ser recompostas...
Sem delongas, sem refletir muito a respeito da profundidade do ritual de ressurgir das cinzas, ambas retornaram o quanto antes para o Umbral. Na verdade, mais para constatar que Andreas e Johnny haviam se embrenhado na escuridão da madrugada e seguido uma estrada que era só deles. Ao chegarem, em detrimento do que previam os oráculos e as racionais probabilidades, lá estavam os dois com mais um amigo, chamado Gaudério. Mas como nem tudo é fácil para essas duas, ao pedirem mais duas garrafas do néctar, o administrador do Umbral as informou que todo o líquido disponível no estabelecimento havia acabado e que, naquele horário, só havia um lugar no qual poderiam encontrar mais néctar: O Inferno!
Sem titubear, seguiram velozmente para O Inferno, afinal a promessa da noite sem fim devia ser cumprida! Seguiram entre árvores de grande porte, arbustos, ouviram pios de corujas, cruzaram as trilhas que passam perto do Vale dos Ventos. Quando quase chegavam à porta do Inferno, perceberam um amontoado de coisas depositadas numa encruzilhada próxima. Curiosos e empolgados pela noite que seguia divertida, se aproximaram e viram que era um despacho de uma almôndega gigante, circundada por penas amarelas...muito estranho. Mas, nem perderam muito tempo com reflexões acerca disso...era tudo leveza, bom papo e risadas altas cortando a madrugada.
Lilith e Andreas sentaram na guia da calçada, nunca mais pararam de conversar e se beijar. Malu e Johnny estavam de pé, nunca mais pararam de beijar e conversar. Gaudério estava conosco e Malu, solidária que é, achou que devia intervir para que ele também tivesse companhia noite adentro...ou afora. Bem é sabido que ela não enxerga muito bem de longe, a questão é que Johnny também não! E os dois selecionaram uma pessoa que sob a neblina densa da noite e a uma distância considerável,podia até ser considerada bonita. Chamaram a moça para apresentá-la para Gaudério...a lua do céu era nova, pouco servindo para iluminar as ruas. A pessoa foi se aproximando, feito cena de filme de suspense, com passos abafados pelo asfalto...francesa, a moça!” Très chique! Je suis Bete!!!”
Gaudério, tomado por um pânico, se encolheu e emudeceu completamente. Dentro de poucos minutos, resolveu seguir para sua casa, tamanho o medo que sentiu perante a imagem assustadora de Bete. Bem provável que ela fosse herdeira do Inferno...mas, são só suposições. Porém, Andreas e Lilith nem perceberam o aspecto da moça, tão inseridos que estavam num Universo Paralelo criado a partir de suas ideias...Andreas contava meticulosamente sobre sua experiência na travessia do Mar Negro, Lilith não parava de fazer perguntas. Queria saber sobre a Bulgária, a Ucrânia, A Rússia...
Nesse momento, repentinamente, Lilith pega a chave de acesso à Cápsula de Teletransporte com Malu. Sugeriu então a Andreas que a acompanhasse, deixando subentendido que ambos se entregariam a uma experiência intensa . Eles cruzaram pelo atalho, entraram na cápsula e nem as paredes transparentes dela puderam impedir a realização de uma profunda fusão que acontecia a despeito de pessoas passando e espiando o que ocorria em seu interior. Aos menos, a nudez parcial de seus corpos estava protegida do vento frio...
O Inferno estava lotado de almas que buscavam algo para saciar suas infindáveis necessidades: de beber, de comer, de sentir... Malu, uma vez que havia abdicado de usufruir da Cápsula de Teletransporte, resolveu entrar no Inferno acompanhada por Johnny. Entraram e conseguiram explorar até a sexta camada do Inferno. Cansados de tamanha exploração, resolveram encostar numa carruagem que estava parada em frente ao Inferno. Talvez tenha sido deixada ali há muito tempo, afinal é sabido por todos que no Inferno a cronologia é completamente diferente da que temos na Terra. Johnny não quis ficar por muito tempo perto da carruagem, talvez com certo receio do possível confronto com o dono do veículo...
A madrugada seguia, pessoas vieram e foram, mas os quatro permaneciam às portas do Inferno. Esfriara muito, mas nada servia de empecilho ao encontro que se dava. A noite nunca acabou...até que começassem a despontar os primeiros raios de sol...
Resistentes, os quatro seguiram para uma cabana que oferecia café e pão. Permaneceram sentados e conversando até acabar todo o café do estabelecimento. Andreas foi o primeiro a partir, morava nas imediações. Passados alguns minutos, Malu, Johnny e Lilith seguiram rumo às suas casas na Cápsula de Teletransporte. No meio do trajeto, encontraram um ser angelical chamado Punky que os seguiu com o olhar durante largo tempo...
Seria uma benção? Seria bom voltar a crer que havia algo de real entre o passado e o futuro? Seria mais um momento a se perder no meio do tempo?
Ninguém queria saber de nada, afinal não há respostas para quem decide viver apenas no presente. Talvez o ritual do voo dedicado a Fênix tenha funcionado e em meio a tantas máculas do passado, o destino deu um sábio jeito de colocar pessoas boas no caminho das duas amigas. Eram tão similares em suas esperanças, dores, planos, alegrias, histórias...eles poderiam pertencer ao futuro do presente? Tomara...pois havia ficado nas entrelinhas que deviam se juntar novamente em novas noites eternas,etéreas...legendárias.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Confronto ( Mais uma de Usp...)

Todos os problemas da vida moderna são poucos e mesquinhos se comparados com as grandes questões filosóficas já propostas desde a antiguidade. Quem somos? Por que estamos? Para onde e se vamos?
Perguntas simples que não são capazes de revelar qualquer verdade absoluta. Absoluta?
Absolutamente os problemas hoje são de ordem prática e pensando em como faria para pagar meu aluguel foi que acabei entrando nessa ordem de pensamentos...
Olhava para o chão. A calçada na qual eu andava era feita de tijolinhos portugueses assimétricos, sujo, feio, desgastado. Olhei meus pés que andavam e me levavam espontaneamente por um caminho do qual eu havia perdido o controle completamente. Movimentava minhas pernas com o apoio de calçados velhos e rotos, naquele momento meu pé doía e eu não sabia o que fazer para resolver aquela questão prática.
As árvores do caminho, onde estariam elas? Avistei o que seria um Parque, cercado por grades, bem no meio daquele burburinho de pessoas andando tresloucadas e carros passando e prédios novos e prédios novos com arquitetura moderna. Aquelas árvores expressavam minha agonia, seus galhos pareciam tentáculos que pretendiam escapar ao sofrimento de viverem ali isoladas e sufocadas por espécimes feitos de concreto e gigantes, elas alçavam o lado de fora das grades de ferro que as cercavam. De cabeça baixa, percebia que havia mais sombra durante o meu percurso do que eu poderia imaginar...
Eu andava e olhava para o chão, tinha papéis,chicletes,pedras soltas,pessoas encostadas nas paredes vendendo uma sério de produtos, desde eletro-eletrônicos até doces caseiros.
Foi quando percebi uma movimentação vinda de uma loja que vendia telefones celulares. Havia alguns seguranças que corriam enquanto se comunicavam via rádio, desembestavam no meio daquele mar de gente. Em determinado momento, cada um correu em uma direção, todos com rádio em punho e gravata no pescoço. Sufocados talvez, como as árvores, como eu.
De repente, abre-se um clarão em meio a todo o povo que parara em frente a loja para saciarem sua curiosidade, surge então, um segurança, extremamente alto, arrastando com suas mãos de raquete um menino. Paralisei. Aquilo doía mais que meus pés...
Fique estagnada em frente a loja e pude ouvir os comentários que circulavam entre as pessoas aglomeradas e que fizeram questão de investigar a fundo o que havia ocorrido.
Pude ouvir quando um senhor saiu da loja e disse que o garoto havia furtado o aparelho celular mais caro da loja e que sua idade não ultrapassava os 11 anos..."mas tem que punir, tem que prender, já que os pais não sabem criar"
Uma senhora que servia de interlocutora para ele, ainda acrescentou que essa era a consequência de vivermos num país sem pena de morte. Morri um pouco...desnorteada, não sabia para onde seguir,portanto continuei minha marcha de olhos fixos no chão. Melhor assim...
O que as árvores pensariam do diálogo que acabava de escutar? No mínimo,dariam um jeito miraculoso de escaparem das grades do Parque e seguirem rumo a liberdade...
Por um instante tive vertigem e rumei imediatamente ao Parque. Indiferente do que sentia, percebi que uma força muito forte me atraía para lá.
Olhei fixamente para as copas das árvores e percebi um movimento ostensivo nelas.O vento faz mesmo essas coisas, não me admirei e continuei a encarar as árvores.
Como a grande maioria dos moradores da capital, eu não fazia a menor ideia dos nomes das espécies aprisionadas e continuei em minha visita, olhando, inventando nomes.
Os troncos curvavam fazendo com que as copas quase chegassem ao chão, não ouvira na previsão do tempo "possibilidade" de tufão e comecei a duvidar da capacidade do vento realizar aquele fenômeno; os caules se moviam e dobravam como penas. Os galhos se esticavam como braços que se espreguiçam, chacoalhava-se em folhas que planavam no ar e depois repousavam serenas no solo.
Senti então, um tremor sob meus pés. Vi os tijolinhos portugueses explodirem a distâncias que eu nem supunha mensurar. As grades de ferro caiam como se fossem feitas de papel e então, aquelas árvores assumiram a Avenida Paulista, como manifestantes políticos, como transeuntes em dia de Parada Gay...
Não existia mais ninguém, somente eu ,involuntariamente, seguindo as árvores e percebendo semelhanças com os seres humanos: umas eram delgadas, outras troncudas, umas tinham as copas plenas de folhas, outras uma escassez tamanha de folhas, umas com galhos longos, outras com galhos curtos. Folhas verde-escuras, verde-claras,lisas, ramificadas...
O sumo das folhas manchou a fachada do Masp, mancharam a Fiesp, foram espalhando folhas sobre a população. Algumas manchas vermelhas deixadas no caminho,mas o verde imperava...
Ouvia o silvo do vento,abria caminho por entre folhas acumuladas,quis enfim,ser árvore.
Senti então,mãos fortes que me sacudiam...meu corpo estendido num piso gelado...então entendi tudo: sobrevivi ao caos de ser árvore!

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Bairro nobre ( Uspniana!!!)

Existem muitos bairros, muitos barros, muitos barracos, suas escadas e ...uma certa casa branca.
Esta casa branca estava localizada num bairro nobre da cidade de São Paulo e a nobreza desenhava pelas ruas arborizadas, muros altos e imponentes, com ventos que passeavam brincando com folhas pelas calçadas.
Algumas árvores enfileiradas nas calçadas formavam silhuetas assombrosas ao cair da noite, seriam capazes de assustar o mais cético dentre os homens. Havia uma paisagem rara e cara comprada pelos moradores do bairro nobre: havia pássaros, céu azul e portões ornamentados. Folhas secas no chão, um certo ar mórbido e...a tal casinha branca.
Por vezes, porém muito raramente, podia-se ouvir vozes infantis que escapavam por sobre os muros de 3 metros da escola tradicionalmente cara e renomada e havia cadência militar nas brincadeiras infantis.
A casa branca ficava dentre outros tantos muros brancos, uns ostentavam vegetações, outros pichações. Essa casa não era tão grande quanto as demais, era sustentada por um imenso terreno, cheio de vento e folhas secas espalhadas por sua extensão de terra batida e cimento.
Apesar de meu parco conhecimento em arquitetura, poderia facilmente supor que a casa teria no máximo três quartos , sala,copa,cozinha,uns dois banheiros. Úmida, perderia o valor de mercado.
Ninguém sabia quem morava na casa branca , ninguém queria saber...cada um que arcasse com sua própria vida desmoronada, sem importância. Quintal sem cachorro. Sem gato, sem rato,sem sapo, nenhum sapato. Não havia luzes, nem sombras...só paredes extremamente brancas.
Quatro moradores,quatro homens-mulheres,mulheres-homens. Quatro enquadrados em quatro paredes brancas. Cada face, cada pseudo pessoa, cada sombra personificada dentro de um mesmo espaço vazio; cada ser de frente a cada parede. Precisamente, no meio de cada parede branca havia a imposição de um rosto, um morador , a sombra. Cada face com um nariz grudado na parede.
Olhos eternamente fechados de tanto ver o branco, nada ver. Seriam os corpo, almas? Que almas viveriam num quarto entre quatro paredes brancas?
Numa tarde fria de inferno, o vizinho e morador da casa azul, sentiu um cheiro vermelho...
Invadiram a casa branca, arrombando quatro portas brancas...um quarto de sangue espalhado pelas quatro paredes. Manchas vermelhas...

Sepultamento ( da série Uspinianas...)

As vidas daquelas pessoas era completamente separada apesar do grau de parentesco que os unia e à pequena distância que separava suas residências. Acontece que o conceito de família antes de integrar,acaba desagregando a família original. Isso é fácil de explicar...as pessoas se casam, sonham ter filhos,às vezes têm filhos, compram casa na cidade, casa no campo,casa na praia,colocam os filhos nas melhores escolas particulares, viajam para o exterior nas férias, possuem todas as inovações tecnológicas em suas nobres residências; mas se afastam completamente do que é essencial.
Eu andava só nas imediações da Avenida Rebouças, sozinho com meus pensamentos e guardando nos bolsos do suéter minhas mãos, temendo a provável chuva que em breve cairia em São Paulo e que caso se efetivasse, seria a cruel responsável por arruinar minha aparência de candidato a uma vaga de emprego, há muito almejada.
Estava indo para uma entrevista em uma empresa "MULTINACIONAL", orgulhoso do curriculum que ora me possibilitava participar deste processo seletivo. Finalmente a recompensa! Não fora em vão os anos arrastados de dupla jornada,pois a partir dos treze anos de idade eu trabalhava e estudava com afinco, sempre aproveitando oportunidades de fazer cursos extracurriculares:digitação, programação júnior, técnico de manutenção e ar-condicionado,técnicas administrativas, noções de matemática financeira, paisagismo, jazz, técnica de segurança do trabalho , técnicas ninja e milenares de massagem hinduísta, meio-oficial mecânico/hidráulico/eletrizante, respiração tibetana para momentos de crise existencial, dentre tantos outros cursos que não convêm expor neste colóquio.
Vesti meu melhor sapato, calcei minha melhor roupa...comprei terno para ir ao casamento da minha prima Janete...era esse meu traje. Essa prima fez um excelente casamento com o açougueiro do bairro que,por sinal, era primo de quinto grau do dono da padaria e este por sua vez era namorado da filha de meu vizinho.
Nossa, belíssimo casamento! Os pais do noivo alugaram uma casa no litoral norte paulista, de frente para o mar. A festa deu-se na areia escaldante da praia e eles disseram o "sim" perante um lindo pôr-do-sol.
O vestido da noiva era dourado...sua visão envolvida pela névoa criada pelos raios de sol,ofuscava meus olhos, já bastante estremecidos pelo sufoco que eu passava trancado dentro do meu terno preto. Affff! Quanto calor passei naquele dia...mas valeu a pena, me senti confortado por ver minhas tias velhas caindo pela areia como peças de dominó, umas sobre as outras.
Era um tal de pernas para o alto, vestidos longos de cetim preto ou vermelho rasgando pela ação dos tombos que elas levavam; sem contar o desperdício dos espetinhos de carne que,nesses momentos voavam longe e se misturavam à areia da praia. Sorte de algumas crianças esfomeadas que aproveitavam e comiam tudo o que caía ao chão.
Era quase certo que a chuva cairia, como paulistanos, não somos capazes de explicar de onde vem esse dom inato de meteorologistas que carregamos. O sol tostava meu rosto e pelo fato de estar há nove meses desempregado, não dispunha de verba para pegar o ônibus que faria o trajeto até o local da entrevista, fui caminhando e desintegrando sob um calor de 35 graus celsius.
Mais apropriado seria, se eu estivesse usando uma burca,mas não sei se cairia bem para um homem. Homens árabes também a usam? Sei quase nada sobre a cultura árabe.
Acabava de atravessar o trecho da Avenida Rebouças que cruza com a Henrique Schaumman, quando percebi um homem cambaleante a uns cinco metros de distância. Já estava tostado, no inferno,prestes a conhecer o capiroto, não seria sacrifício algum correr em socorro daquele pobre diabo. Cheguei ao lado dele quase desfalecido,mas tive rápido reflexo para ampará-lo quando ele desfaleceu.
Entrei em desespero e nenhum transeunte parava para nos auxiliar. Gritei, me descabelei e transpirei como nunca. Tentei respiração boca-a-boca e nem sinal de recuperação dos sentidos,por parte do senhor. Com ele em meus braços, pude notar os sulcos formados por rugas profundas que se formavam em seu rosto, sua mão magra e frágil segurava fortemente alguns papéis e sentia sua pele extremamente fria. Apavorei-me e foi neste momento que percebi uma viatura policial vindo em nosso auxílio.
A ansiedade tomava conta de mim, estava preocupado em chegar à entrevista de emprego agendada para as 14 horas;olhava o relógio preso ao meu pulso direito quando o policial perguntou se eu era parente da vítima, indagação que respondi prontamente com uma negativa.
Enquanto meu olhar se perdia entre a obstinação de chegar a meu compromisso e aquele homem estendido no chão quente de uma tarde ensolarada, ouvi quando um dos policiais pronunciou o nome daquele senhor: Custódio de Oliveira Filho. Eles o levariam para um hospital nas redondezas...
Fui dispensado pelos oficiais e saí culpado, pesado como o céu que se precipitaria sobre minha cabeça, à frente, somente a promessa de tempestade. A tormenta havia iniciado pelos pensamentos que invadiam minha cabeça, ora com preocupações acerca do Sr. Custódio ora ansioso pela entrevista de emprego tão esperada. Em São Paulo: 13h30. Teria pouco tempo para chegar a meu compromisso, começava a chuva...corri o mais rápido que pude, quando lembrei do professor de física falando:"Não adianta correr sob a chuva porque a superfície de contato é a mesma". Corri mesmo assim...
Subia do asfalto um bafo de calor insuportável e eu tendo que administrar a chuva, o horário, Sr. Custódio, meus sonhos. Em São Paulo: 13h50.
Cada vez que meus pés tocavam o solo, sentia bolhas eclodindo em meus pés e o calor aumentava a dor latejante. Preferi nem pensar em como meu corpo ficaria no dia seguinte.
Eis que finalmente, estava próximo ao meu destino, entre eu e minha oportunidade, apenas duas quadras, a chuva, o horário, o calor dos sonhos e a dor do Sr. Custódio.
Parti em disparada e o semáforo fechou. Olhei atônito para o relógio. Encharcado, fedorento, com dor física, com dó do Sr. Custódio. Em São Paulo:14h10. Mais dez, somente dez, um perdão caberia na ocasião, qualquer ser humano paulistano seria capaz de perdoar um reles atraso de dez minutinhos, sobretudo em uma MULTINACIONAL.
Cheguei!!!!!Ao menos na portaria do edifício, suntuoso prédio. Mármore no chão, pilares em estilo romano e uma fila quilométrica na recepção. Na fila, aproveitei para ajeitar os cabelos molhados, a gravata e secar o rosto. O reflexo da porta de vidro mostrou que minha aparência estava deplorável,mas seria melhor nem pensar nisso. 14h21:São Paulo.
Finalmente, depois de minutos que pareceram horas, fui atendido. Dados solicitados: nome, empresa a visitar, contato e ramal. 9º andar...subiria de escadas,já que sofria de claustrofobia. Aguardei mais um pouco que pareceu muito. A recepcionista ao telefone solicitava minha autorização de embarque aos meus objetivos. Ela coloca o fone no gancho, prepara seu olhar mais piedoso e declara mecanicamente: "Sinto muito senhor,mas o senhor não vai poder estar subindo porque o processo de seleção acabou".
Sem ar, sem chão, visão turva, faltou coragem de gritar, sobrou vontade de chorar esperneando feito criança. Eu merecia ao menos ser atendido. Ouvi um zumbido no meu ouvido e uma voz feminina que chamava "Próximo!"
Calei-me, dei alguns passos, tonto, enjoado,decepcionado. Lembrei do Sr. Custódio. Tive raiva, compaixão, autopiedade. Repentinamente, comecei a gritar no hall do suntuoso edifício. Gritei, xinguei, cuspi nos pilares romanos e minha vista escureceu.
Acordei doze horas depois, num leito de hospital, localizado nas imediações da Avenida Rebouças. Havia sido sedado e estava sendo assistido por um Dr. Marco Antônio de Alguma Coisa.
Lembrei de tudo que gostaria de esquecer, dia odioso, chuva inoportuna,sol escaldante,o senhor Custódio. Poderia ficar preso àquele leito para sempre, já que não tinha ideia do que faria com relação a meu futuro. Não, não comeria a comida do hospital! Passei umas três horas desviando meu olhar entre o teto branco e as persianas fechadas da janela.
Chegou a noite e o médico plantonista me examinou e suspendeu a medicação. Informou que eu continuaria em observação até a manhã seguinte e perguntou se eu gostaria de entrar em contato com algum parente. Passei o telefone de casa e ele pediu que a enfermeira fizesse a ligação para avisar minha esposa.
Ainda sob efeito de calmantes, ouvi um barulho de pessoas correndo, macas, aparelhagens. Por toda a noite, médicos e enfermeiras entravam e saiam do quarto 1421. Eu só queria dormir...
- Entrou em óbito?
- Infelizmente...
- Qual o nome do paciente?
- Custódio de Oliveira Filho.
- Nome pomposo, quem ele era?
- Ninguém...

domingo, 26 de julho de 2015

Nebulosas - Desenconto 5

Era um sábado desses qualquer, que por falta de dinheiro, disposição ou esperança, fazem a pessoa desistir de viver ao menos por umas horas...procurando pelo sono ou por algo que ainda valha a pena na televisão. Esperando por fim, que sonhos tragam aquilo que a vida nega.
E justamente num desses dias, as amigas Malu e Lilith seguiram rumos diferentes ou ao menos acharam que eram diferentes.

Malu estava muito animada para visitar um zoológico noturno que havia sido reinaugurado recentemente na cidade, haveria a apresentação de espécimes animais novos, saídos de um laboratório de genética da Inglaterra. Apesar de suas incansáveis tentativas de persuadir Lilith a acompanhá-la, Malu acabou desistindo perante a resistência da amiga que queria,por horas, se abandonar no seu sofá craquelado.

Malu ainda não havia encontrado, queria saciar sua necessidade de se reconhecer no desconhecido. Não chovia nesta noite, também não haviam estrelas no céu opaco. De qualquer forma, valeria a tentativa de busca pelo inusitado. Ninguém sabia ainda se as atrações circenses trariam a Malu o que ela buscava e, em verdade, provavelmente nem ela mesmo saberia o que pretendia encontrar. Ela só sabia que não ficaria em casa, contando passos através do seu corredor estreito.

E se tem uma coisa que Malu é, é corajosa! Ela não se importava de ir a lugares de seu interesse, nem que para isso devesse seguir sozinha. No entanto, achou alguns duendes sentados próximos ao Vale dos Ventos que se dispuseram a acompanhá-la. Seguiu para o zoológico noturno, esperava algo surpreendente, esperava a representação evolutiva humana sendo apresentada diante de seus olhos...porém, tudo o que encontrou eram homens-lagarto que tocavam percussão. Seus olhos eram assustadoramente humanos e arrogantes...ao menos dois dos componentes do grupo, exteriorizavam através do olhar todo o cabedal de defeitos humanos. Assustador demais para a expectativa de Malu. Bem que ela tentou, em companhia dos duendes, permanecer até o final do espetáculo, porém, assim que os homens-lagarto se preparavam para a terceira e última parte do show, ela escapou em companhia de uma duende ...o outro ficou lá, entre o público que pagara para ver tamanha bizarrice.

Enquanto Malu decidia através das ruas da cidade para onde iria, Lilith procurava respostas que casualmente pudessem estar incrustadas pelas paredes de sua casa e história, assim como fósseis de dinossauros. Precisava caminhar para esclarecer os pontos obscuro de suas escolhas...e andava pelo quarto, esbarrando em sua cama; percorria sua sala, apoiando as mãos nas paredes; olhava pela janela tentando recriar o exato momento.

Lilith andava de um lado para o outro, com uma camisola e meia 7/8, se sentindo ridícula o suficiente para rir sozinha. E já que era sábado,depois de cansar de procurar respostas em meio às perguntas que fazia perante o espelho, acabou depositando em seu colo um livro que o acaso colocara em suas mãos e, magicamente ou por excesso de criatividade, pensa-se que suas palavras e frases dialogam diretamente com o leitor. Elucubrações excessivas, 46 páginas lidas ao léu, sono profundo e sem cobertor... o homem barbudo, vestindo roupas brancas apareceu no seu sonho inquieto para lhe fazer uma entrega. Foi quando Lilith se levantou para ir ao banheiro e reparou que o dispositivo de comunicação telepática que a conectada a Malu, estava acionado e emitindo um som imperceptível a ouvidos de outros humanos.

Sem se importar com o que trajava, jogou um sobretudo sobre a camisola surrada, calçou uma bota, prendeu o cabelo de maneira desleixada e seguiu para o Umbral. Ainda esbaforida, procurou por entre as névoas a localização de Malu. Acabou trombando com um grupo de duendes que tomavam uma poção qualquer e que indicaram onde ela poderia achar Malu. O tempo naquele lugar é incoerentemente atemporal, se é que isso seria possível; mas era...minutos viravam horas, horas se transformavam em segundos. Transcorrido o tempo que não se media através de relógios convencionais, finalmente as amigas se encontraram. Então, como demonstração de alívio por encontrar Malu, Lilith virou um tubo de ensaio que continha aproximadamente dois litros de uma poção verde e borbulhante. De verdade, pouco importava o nome que davam para aquele líquido, posto que a sensação ocasionada por ele retirou Lilith da órbita terrestre por um bom tempo, longe de todas as paredes...

Foi quando, lá de cima, de algum lugar sobrevoando o Umbral que Lilith percebeu a aproximação que se deu entre Malu e um ser arcaico e pouco evoluído, que aparentemente fazia parte do clã homo-barnabés. O ser em questão, até que não era feio: ostentava uma barbinha charmosa e relapsa, um cabelo desgrenhado e uma vontade louca de aprender a falar! Pois é, ele usava um dialeto que os homo-babacas usavam há mais ou menos um século...

Era admirável perceber, lá de cima, que o tal Ray parecia acreditar em suas próprias mentiras. Era do tipo que inventava romantismo e proximidade parental apenas para seduzir uma mulher...
Andava com um álbum de fotos antigas de todos os componentes de sua árvore genealógica, apenas para se provar confiável. Ator de teatro pastelão...mas, Malu estava vulnerável, queria se aproximar de algo ou alguém que a distanciasse da experiência no circo de horrores. Nesse momento, Lilith sentiu toda a pungência de estar impotente perante o que estava para acontecer com sua amiga...ela estava estrela e longe demais para intervir.

Viu tudo acontecer, sua amiga sucumbir ao charme clássico e fora de moda do tal Ray...ao menos, Malu estava inserida numa realidade que talvez Lilith nunca fosse capaz de entrar...

Haveria sim, os outros dias...todos os outros, todo o tempo contido nessa atemporalidade presente em suas vidas...e perante a grandeza universal, um homo-barnabés representava menos que um cisco de poeira presente numa nebulosa qualquer, de um universo qualquer.
Certamente, elas sobreviveriam...

domingo, 28 de junho de 2015

Dança das Máscaras - Desenconto 4


O que dizer quando a vida te apresenta a oportunidade perfeita para ser quem você é? Ou seja, quando a máscara é permitida e delineada sobre seu rosto, sem censura, sem restrições? Aconteceu,e numa noite cor de laranja...
E tudo era permitido, só que elas ainda não sabiam. E todas as marcas do rosto, seriam enfim cobertas por uma superfície artificial...
Malu se dirigiu ao Umbral, sem qualquer urgência de colar a máscara, seguia leve, sem pretensões. Normalmente carregava seus sonhos, mas sábado à noite pode-se deixá-los em casa apenas para ter uma noite leve e sombreada pelos galhos da árvore de frente. E foi o que fizeram...outros amigos também iriam ao Umbral naquela noite: Eduarda, Rita, Fátima, Clara e Rodney. Já Lilith ansiava por uma máscara, havia sido estimulada pela possibilidade de esconder um pouco seu rosto...não podia e nem queria ser reconhecida pelos aldeões. Carregava seus motivos ocultos, não poderia se arriscar e se expor demasiado...
Encontraram-se nas proximidades do Umbral, quebraram o gelo com alguma conversa , algumas latinhas e risadas. E todos conseguem rir, sobreviventes que são. E seguir o caminho, por onde quiserem e arcando com as consequências. Não são do tipo que se escondem atrás de convenções sociais e religiosas, sobretudo, eles enfrentam seja o que for, esperando que em algum momento a vida lhes abra um sorriso infinito!
E antes da máscara, o que Lilith e Malu viram foram lágrimas dolorosas. Estavam cheias de ver pessoas boas sofrerem, cansadas da estupidez cansativa disso que chamam “amor”. Por isso o refúgio, as máscaras...mesmo estas, não garantem a tal felicidade. Porém, o que importa é que as nuances alaranjadas da noite alcancem suas almas e tragam alívio e uma dose de alegria.
Zion demorou um pouco para chegar, acabou passando algumas horas no Inferno e teve que pedir auxílio para Malu e Clara, que foram resgatá-lo de lá. Voltaram todos, depois de umas duas horas, aparentemente ilesos. Não quiseram comentar nada a respeito do resgate e Lilith resolveu não espreitar muito, colou uma máscara no rosto e manteve a discrição. Mas ela sabia, que nada estava como era antes...
Naquela noite, a névoa que geralmente compunha o ambiente umbralino, não esteve lá em nenhum momento. Lilith estranhou um pouco, mas talvez a bruma tivesse cedido espaço para a protagonista da noite: a máscara! Mas repentinamente, tudo começou a acontecer. Freneticamente as luzes se alteravam, refletindo nas superfícies lustrosas das máscaras e as pessoas dentro do Umbral tinham suas feições e proporções alteradas, como o que nos acontece frente aos espelhos mágicos circenses. Malu , meio assustada com a brusca alteração do ambiente, procurou refúgio na tenda do guardião do Umbral. Ficou lá, protegendo-se daqueles rostos imensos e desfigurados que surgiam, felizmente Miguel sabia exatamente o que fazer para protegê-la. Lilith se misturou aos outros, dançou desfigurada e protegida pela máscara...girava alucinadamente e, começou a ouvir a voz de Davi, que estendia a mão para ela e a envolvia, sob a luz laranja da noite...
Não, jamais elas trocariam a luz laranja pelos raios de sol franzindo seus narizes e olhos...
Acordaram numa choupana isolada, felizes por estavam protegidas da luz do sol. Quando acordaram, Malu e Lilith perceberam que as paredes da humilde habitação eram tomadas por máscaras, desde réplicas africanas até venezianas. De alguma forma, souberam o quão difícil seria se libertarem delas...


sexta-feira, 26 de junho de 2015

Inferno - Desenconto 3

Uma inquietação quase incontrolável dominava Lilith. A sexta-feira, prenúncio do final de semana, não trazia quaisquer promessas de felicidade. Ela, se sentindo sozinha, sentindo-se acompanhada por pensamentos que deveriam estar mortos, extintos feito os dinossauros.E uma voz interior que ao invés de sussurrar, gritava fazendo eco: ”Como eu mato essa droga de sentimento?”
O distúrbio havia voltado, a sua alma aprisionada queria sair...gastar energia andando entre os cômodos de sua casa na infrutífera tentativa de parar a dor, só conseguia gastar o solado do chinelo. E a cabeça trazia lembranças de cores, cheiros, sons, gostos, flor, traição e...dor. Seria essa a alternativa para sexta-feira à noite?
Saiu pela porta da cozinha, precisava de respiração, de inspiração e então, Lilith seguiu pela trilha que começava no seu quintal e cujo fim, ela jamais conseguira chegar. Afinal, para que antecipar o final ?
Chegando numa clareira, Lilith sentou-se sobre a relva e então, resolveu...
Deveria se agarrar à única possibilidade de companhia que poderia ter naquela noite sufocante. Voltou apressada para sua casa e ligou para Juan. Eles estavam afastados, haviam se relacionado por um tempo, mas não havia acabado bem, nada acaba. Lilith foi suave e bem humorada ao telefone, tinha que manipular a situação a seu favor. Queria sentir-se viva, tinha que sair, senão as paredes de sua casa a sufocariam. Ela pagaria a bebida afinal, só buscava outras palavras, um sopro diferente, risadas bobas na madrugada, sono desperdiçado e o vento batendo em seu rosto. Lilith não podia mais ficar em casa transformando a realidade enquanto lia, escrevia ou sonhava acordada com as letras de um nome cujo significado ela nunca soube qual era.
A conversa ao telefone fluiu tranquilamente, deixando transparecer que ambos haviam reatado a amizade. Ao destino? Caminhariam sob as árvores do caminho, numa noite chuvosa...
Lilith não pensava nada, iriam os dois ao Lago de Lama, ficariam em paz e desfrutando de um bom vinho...poucas palavras seriam proferidas, isso era óbvio, já que Juan era incapaz de demonstrar profundidade em suas elocuções e discorria pessimamente a cerca de seus sentimentos. Chegaram e sentaram-se na margem esquerda do lago. O vento se impunha e apagava as poucas palavras. Outros aldeões foram chegando e eram em sua maioria conhecidos, que se aproximavam de Lilith e Juan, trazendo novas histórias.
Enquanto conversava, Lilith começou a ouvir sua voz interna, só que ao invés de gritar, ouvia-se música “Reminds me of childhood memories/ Where everything was fresh as the bright blue sky”. E sua vista ficou embaçada, ela lacrimejava...talvez, pela forte lufada de vento que trouxe Davi para o lado esquerdo do Lago de Lama e fez com que ele sentasse ao lado dela. Noite despretensiosa até então, a partir daquele momento enevoado, uma súbita empolgação tomou conta de Lilith, ela falava muito e Davi a acompanhava. E de repente eram só os dois a falar...todo o elenco presente, virou figuração. Todos ao léu...
“Where do we go now?”...
Inesperadamente o grupo de aldeões resolveu seguir para outro local, e dado o adiantado da hora, o único portal que encontrariam aberto, seria o do Inferno...
Será que estariam preparados para ultrapassar a barreira do Portal e voltarem de lá com suas almas ilesas? Lilith não sabia, só sabia que queria ir com Davi...e entrar no inferno e, quem sabe, sair de lá íntegra ou completamente modificada. Ela já havia entrado no inferno algumas vezes, mas algo lhe dizia que seria um passo importante a ser dado.
Antes de partirem junto ao grupo de aldeões, Lilith recebeu um chamado telepático de uma amiga que se encontrava sozinha no Umbral. Pediu que Davi e Juan a acompanhassem até lá, para que pudesse resgatar sua amiga e propor que ela seguisse para o inferno junto a eles.
Voltaram sob as mesmas árvores que marcam o caminho até o Lago de Lama, fazendo um pequeno desvio da trilha para que os três chegassem rapidamente até o Umbral e encontrassem Fátima. Lilith ía à frente, revelando o caminho para Davi e Juan. Chegaram e Davi e Lilith foram entrando no Umbral, cumprimentando os conhecidos que cruzavam por eles. Juan preferiu esperar na rua. Fátima logo saiu e ficou ao lado dele, acariciando seus cabelos e conversando num código linguístico que só os dois dominavam.
Repentinamente, os olhares de Lilith e Davi se cruzaram e nada precisou ser dito...já haviam dito quase tudo e agora era hora de se perceberem, então beijaram-se. E uma névoa se formou, ocultando os dois, enquanto se beijavam...
Após minutos que pareceram horas, o pequeno grupo formado pelos quatro amigos, saiu com destino ao Inferno. E como é sabido, o tempo transcorre diferentemente nas zonas que circundam o Inferno, sendo assim, horas pareceram minutos e em poucos passos chegaram ao Portal.
Fátima percebeu que Davi e Lilith saíram diferentes do Umbral, percebeu no ar pesado, a urgência que tinham de estar juntos, mas preferiu não tecer nenhum comentário.
Estavam parados, os quatro em frente ao Portal. Ficaram silenciosos, cada um carregando suas perguntas e medos e, ninguém com coragem suficiente de dar o primeiro passo. Trocaram um olhar silencioso...
O Portal se mantinha fechado, nenhum deles sabia o que fazer ou o que dizer para conseguir acesso. Fátima pensou em soltar um “abra-te sésamo”, mas aí já seria outra história...
O vento uivava na noite, um céu sombrio sem estrelas ou lua...Davi segurou forte a mão de Lilith. De repente, num átimo, o Portal se abriu e uma língua de fogo tragou Lilith e Davi...
Eles ficaram inconscientes por alguns segundos, mas assim que recobraram a consciência, perceberam que estavam envolvidos por fogo sem que se queimassem. Suas roupas sequer ficaram chamuscadas...seus olhos abertos não sentiam o ardor do fogo...e o ambiente era todo iluminado pelas labaredas. Ninguém veio recepcioná-los , levantaram-se e olharam à frente. O que viram era mágico...vários lugares diferentes, dispostos como que dentro de um caleidoscópio que se afunilava em direção ao infinito. Cada local, separado fisicamente do outro por uma barreira energética invisível...e disso eles souberam, porque tentaram caminhar adiante e sofreram o forte impacto em seus corpos. O espaço em que estavam, tinha vários caça-níqueis, lembrando as imagens de cassinos com as quais eles estavam habituados. Sofás dispostos luxuosamente pelo ambiente, cortinas de veludo vermelhas, almofadas espalhadas, garrafas de bebidas dispostas aleatoriamente pelas mesas de vidro que compunham o ambiente. E música, tocava música alta...e envolvidos por Sweet Child o’mine, Lilith e Davi se entregaram à música e dançaram e deixaram que as labaredas consumissem seus corpos. Tudo era fogo, era vapor, era etéreo...e eles se perderam em si próprios, perdendo a consciência e desmaiando no chão gelado do Inferno.
Quando Lilith abriu os olhos, ela se encontrava sentada à mesa de jantar de sua casa, e nos dois sofás da sala, encontravam-se adormecidos Davi e Juan...era sábado, e a noite já invadia o dia...


domingo, 7 de junho de 2015

Armadilha - Desenconto 2

Os dias se passaram, pois eles sempre passam a revelia de nossa vontade. Deixando marcas profundas de quaisquer emoções que se possa conter em qualquer fração de tempo.
O mundo não mudou, nenhum fato marcante à vista...ou a prazo. Mas, elas se apoiavam na amizade que crescia...
Elas ainda não sabiam que depois da noite laranja, jamais voltariam a ser as mesmas. Se melhorariam como os seres humanos padrão almejados pela sociedade hipócrita e vaga que as detinha, só o desgraçado do tempo iria dizer...que ele então, fizesse acontecer.
Aquele quase namoro de Malu, durou uma parte ínfima definida pelas leis de Chronos. Ficaram juntos um tempo, o suficiente para que Malu descobrisse algo estarrecedor sobre ele e que a fez questionar a origem daquele ser. Claro, quando pretendemos conhecer alguém com a finalidade de um envolvimento amoroso, sabemos que existem diversas diferenças ideológicas, sociais, políticas, educacionais, psicológicas e por aí vai. Porém, a realidade com a qual ela se defrontou foi muito mais intensa...
Pois bem, sua descoberta se deu quando ambos estavam prestes a trocar fluídos corporais...em meio àquela confusão de braços, beijos, meias, pernas, cotovelos e afins. Malu mal pôde perceber o início da transformação de seu amado. Estava empolgada, animadinha com o acontecimento, afinal ela é extremamente passional. O clima esquentou, a luz apagou e as mãos deslizavam com afinco. Malu adora bíceps e costas largas...então seus dedos passeavam por estas partes do corpo de Antonio. Em dado momento, a respiração dele se alterou de uma maneira assustadora, Malu recuou, pois ele resfolegava feito um touro violento em vias de atacar sua presa. Ela correu até o interruptor e quando acendeu a luz, amarelada e fraca, constatou que Antonio havia crescido! Cada parte de seu corpo havia expandido de maneira assustadora! Em estatura ele aumentara uns 50 centímetros, mas sua musculatura assumira dimensões faraônicas, sua camisa ficou totalmente dilacerada ao lado da cama e gotas de suor escorriam de sua imensa testa...
Não houve tempo para explicações, Antonio começou a chorar copiosamente e aos soluços, saltou pela janela do hotel e correu desvairadamente, deixando com Malu o pavor e os ruídos de seus pesados passos se afastando.
Malu se sentiu abandonada e, além disso, não conseguia entender o que acontecera ali naquele singelo quarto de hotel. Como? Por quê? O que era Antonio? Olhou ao redor e o que restava no chão, eram os pedaços de sua camiseta dilacerada...apressadamente, vestiu-se, pegou sua bolsa e foi até a casa de Lillith. Precisava entender o que havia acontecido, precisava conversar com sua amiga...e caso nenhuma das duas concluísse absolutamente nada, ao menos ela conseguiria se acalmar.
Lillith morava num bairro afastado do centro, Malu trêmula, procurava se concentrar na direção. Carregava consigo um medo absurdo...o que era aquele ser a quem havia devotado horas preciosas de sua vida? A noite estava escura, a lua não quis testemunhar aqueles fatos sobrenaturais que haviam ocorrido.

Ao chegar na casa de Lillith, as luzes da casa encontravam-se apagadas. Malu quis chorar parada defronte ao portão, mas uma vez que já havia chegado até ali, resolveu tocar a campainha.
Nada. Nenhum som de dentro da casa. Nenhuma luz se acendeu. Nem os cachorros se manifestaram. Droga! Será que o mundo tinha virado ao contrário nessa noite inexplicável? Ia se virando para partir, quando percebeu a porta da frente sendo aberta. Era Lillith, enrolada numa toalha quem vinha correndo abrir o portão.
Malu desabou num choro convulsivo, não conseguia ordenar as ideias e tampouco as palavras. Era um emaranhado de confusão, difícil verbalizar...
Mas havia uma festa, Lillith a levaria para uma festa. Era o aniversário de um amigo querido, um desses seres especiais que ainda não se deu conta que, em meio à massa uniforme da humanidade, se destaca pelo bem...
Sem que Malu conseguisse se esclarecer, partiram para a festa de Pierre; era perto, era confuso, mas foram assim mesmo.
Chegaram numa casa rodeada de árvores, com sacada, com rede, com poucas pessoas. Só os amigos mais íntimos de Pierre. Poucos parentes, poucos amigos...ambiente aconchegante, ou ao menos se transformou em um lugar bem acolhedor, após as bebidas e afins que transformam a noite escura em mistério e contentamento.
E a conversa rolou solta, pessoas muito decentes, papo bom, noite longa, cerveja gelada e afins...Malu não curte “afins”, Lillith curte parcialmente. E havia o andar de cima, Malu atraída pela escadaria em penumbra, subiu os degraus e encontrou alguém que também havia subido, em busca sabe lá do quê. Sem saber o que procuravam, eles se encontraram...
Enquanto isso, na rede da varanda, Lillith falava, ria de si mesma, se perdia em estórias desconexas. Se perder de si mesma era tudo o que ela queria, era tudo de que precisava...e as palavras exerciam esse poder sobre ela, as palavras que a transformavam em quem ela queira através das noites de São Paulo.
De repente Malu desce as escadarias procurando um banheiro, Lillith percebendo sua inquietação a acompanha. Não há portal mais perfeito para as mulheres do que o banheiro, lá todos os segredos são partilhados, todos os planos decifrados, todas as risadas contidas são libertadas...
Mas não era o caso, a noite de mistérios sobrenaturais ainda não havia acabado para Malu...talvez ela estivesse vivendo aquele dia entre o plano terreno e algum outro plano ainda indecifrável para os réles mortais. A pergunta feita para Lillith, à queima roupa era: onde foi parar meu absorvente interno???? Ou seria absorvente etéreo??? Absorver o que, afinal????
Lillith ria, a gargalhadas soltas e aprisionadas no banheiro! Será que ele, o absorvente, havia sido empurrado nas entranhas de Malu? Será que ela o arrancará num rompante de desespero? Mas tudo o que Lillith conseguia fazer era rir enquanto falava das possibilidades. Investigação no nível CSI àquela hora da madrugada e após milhares de cervejas, não seria possível...
Saíram do banheiro tentando conter-se...e a noite tinha que continuar: os papos, as latinhas, os abraços...o vinil na vitrola. Sim! Vinil! E foi fantástico...
A dança na sala praticamente vazia, com olhos fechados que é para intensificar as sensações, que ultimamente são mais importantes do que as emoções, posto que sensações abrandam a alma, emoções podem afundá-la...
E depois, a rede na sacada! O balançar trazendo o vento contra os rostos e palavras; anuviando os olhos, absorvendo as palavras. Mas a conversa nunca acabava, ainda que os maços de cigarro tenham sumido. Talvez, e isso é apenas uma suposição, os cigarros tenham seguido para um universo paralelo junto com o absorvente interno...afinal, numa noite sobrenatural, tudo passa a ser provável.
Talvez amanhecesse, e em meio à conversa da noite inteira, Lillith levanta bruscamente da rede, quase derrubando sua amiga e o amigo da amiga...
Ela sai em busca de um canto no escuro, precisava dormir...
Encontrou também uma companhia perfeita enquanto buscava um espaço disponível: peludinho, de baixa estatura, do tipo que cabe no colo, amarelo, orelhudo e mudo. Malu a aconselhou a subir as escadas...lá em cima seria perfeito para que Lillith seu amiguinho ficassem a sós...
E Lillith subiu: uma mão arrastando seu amigo peludo e a outra tateando o corrimão. Jogou-se no sofá, mas o peludinho não estava bem encaixado nela. Desconfortável!
Havia uma porta aberta, havia uma cama de casal...haviam dois seres enlouquecidos por uma cama! Lillith deitou junto com o Coelhinho de Pelúcia, num encaixe perfeito! Tudo o que queria da noite, ela conseguiu com um bichinho de pelúcia: o abraço perfeito para embalar seu sono...porque os sonhos, melhor deixar para lá.