domingo, 25 de outubro de 2015

Desenconto 8 - Recomeços...

Fosse por persistência em crer em dias melhores, fosse por birra perante a vida, fosse pela traiçoeira esperança ou pela falta da negação definitiva...Lilith continuou andando. Deixou planos e sonhos para trás e tudo o que bastava era o dia-a-dia. Trouxesse o dia um ato qualquer que ela reconhecesse como bom, era o suficiente para fazer agradecimentos em voz alta, durante o banho.
Ela tinha amigos!!! Malu estava ,como sempre, nutrindo sua amiga com esperanças vãs, posto que toda esperança é vã, já que faz parte do imaginário. Mas era desse amor que provêm da amizade que Lilith precisava. Risadas ao leu num canto ventilado do Umbral? Por que não?
Malu, Johnny e Andreas estariam no Umbral. Seria uma forma de reverenciar a amizade, rumo à transformação do ideal no real. Só que Lilith precisava se analisar e ter cuidado para não agir, novamente, feito uma fênix na TPM: jogando fogo ao redor e recolhendo cinzas alheias. Atos impensados que não serviram para finalidade alguma, apenas ocultaram mais sua verdadeira personalidade.
Parecia que Malu e Johnny estavam se dando bem...
O clima foi ficando leve no Umbral, a névoa persistente envolvia os amigos, num vapor muitas vezes tênue, outras vezes denso. Respirar estava ficando difícil, mas falavam sem parar, riam de qualquer alienígena que se aproximasse. Naquela noite, Malu não percebeu as diferentes gradações que a luz laranja da rua assumia, parecendo executar uma coreografia junto à névoa. O vento zunia frio, mas Lilith não queria estar em outro lugar...e pelo visto, Malu também não, já que permaneceu boa parte nos braços e boca de Johnny...
Ultimamente, dentre os frequentadores do Umbral, haviam muitos duendes, recém chegados do 15° círculo terráqueo da Vila Mortal. E apesar do nome horroroso do lugar de origem destes seres, eles eram bem calmos, capazes de desenvolver belíssimas argumentações. Lilith não dispensava diálogos inteligentes e acabou se envolvendo com Andreas e com um dos duendes provindo da Vila Mortal em conversas infindáveis. Sem nenhuma lógica cronológica, passaram por túneis de pensamento, lançando chamas de dúvidas e faíscas de provocações intelectuais...
Enquanto isso, nas imediações do altar do Umbral, Malu e Johnny riam muito e se beijavam mais ainda...
Amanhecia quando a charrete chegou à porta do Umbral para resgatar Johnny, Malu, Andreas e Lilith. O grupo de duendes já havia dispersado e provavelmente haviam se encaminhado para o Vale dos Ventos ou qualquer lugar que o valha. Andreas ansiava por ir embora, mas a charrete , repentinamente cessou seus trabalhos no exato momento em que deixava os amigos na porta da casa de Lilith.
Bom, ao menos seria uma oportunidade de recomeçar...estender as redes na sala e continuar a conversa. Quanto a Johnny e Malu, não perderam tempo e assim que entraram na casa, dirigiram-se para o dormitório de Lilith, alegando sono...
Através da janela, Lilith e Andreas percebiam que a coloração do céu se alterava, mas não estavam nem preocupados com isso. Já haviam entrado no caleidoscópio que criaram, entremeado pelas palavras que lançavam lá dentro...e todo o fora, de repente, deixava de existir. Era intenso ...músicas que povoavam suas cabeças foram compartilhadas por telepatia, no momento em que Lilith se lançou no colo de Andreas...iniciando um passeio infinito por seu pescoço, enquanto mesclavam suas experiências.
Malu, vez ou outra, passava por entre as redes da sala ostentando sua túnica azul celeste. Acendia um cigarro, tomava um café e voltava para o quarto. Com uma leveza quase transcendental ... e um tanto lépida. Johnny sequer era capaz de reunir forças para sair da cama. Ficara acorrentado pelo poder de Malu. Mas ainda era cedo demais para revelar certos segredos...
Fora uma boa noite, uma manhã rósea, um calidoscópio multicolorido, nova trilha sonora e um colo difícil de abandonar...

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