sábado, 17 de novembro de 2012

O provável,o possível

Te ver chegando,vindo ao meu encontro para um terno abraço...de saudade. Por um segundo,meu olhar desvia para o céu, e lá está a lua, com seu enigmático sorriso do gato da Alice. Está frio,sinto frio e verbalizo.Envolvida pelo abraço seu. (Diálogo interno;frio pela sua ausência.Me aqueça pra sempre...) Outros abraços,segundos de contemplação...percebo seu olhar em mim,o mesmo olhar meu em você. Olhar de quem não quer deixar o momento escapar.. Liga não , posso ser memória quando faltar em realidade... (Diálogo interno:para de negar a parte sua que quer a parte minha. Vem, me agarra...rs) Os sorrisos vem facilmente até a boca. Os abraços envolvem o momento ou o momento envolve os abraços? Sente o cheiro meu(é seu...),sinto o cheiro seu ( é meu...).Abraço. Beija o meu pescoço,beijo o seu...meu pensamento em devaneio. ( Diálogo interno: é minha boca que te espera...) Leveza,felicidade,plenitude,graça...a calma quefalta em mim, vem de você. (Diálogo interno: basta você querer...) Não! Não quero que você vá! Mas,agradeço por você estar. Não! Fique mais e eu descanso minha cabeça no seu ombro( meu lugar).Deixo seu cabelo passear na minha pele. Deixa seu sorriso eliminar a dúvida.. No mais,a gente sempre... Seu cheiro... ( Diálogo interno:o mundo podia acabar com você do meu lado. Deixa minha cabeça descansar em você?(pra sempre). Deixo seu cabelo tocar minha pele. Deixa seu sorriso eliminar a falta

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Cansada!!!!!!!!!!!!

Sinceramente, clamo por uma lógica que não chega. Onde o poder Divino? Onde está? Porque sinceramente já vi muito fdp se dar bem...cansei! E aí a gente acaba lendo que não "podemos" desistir, "temos que ser fortes", porque "Deus sabe o tempo certo"... Cansada de fórmulas falhas, inverdades,falsas esperanças... Se dá ou deu certo para alguém o fato de ser feita forte de tanto apanhar da vida; parabéns! Só que não dá para ficar pescando borboletas azuis quando a realidade é tenebrosa. Dá pra sorrir...com gosto amargo na boca, só para disfarçar o azedume! E vambora, pagar contas pra gente sem noção viver encostada... Cheia do gosto das decepções, cheia de ter sido machucada ( por eu ser forte!),cheia de viver dormindo só para acordar e...esperar por nada,porque nada vem! E escrevo porque são minhas as dores e as palavras! E tenho que cuspir o gosto amargo, cuspir fogo, já que impossibilitada de cuspir na cara de quem merece...

sábado, 13 de outubro de 2012

Se eu morrer novo

Se eu morrer muito novo,ouçam isto: Nunca fui senão uma criança que brincava. Fui gentil como o sol e a água, De uma religião universal que só os homens não tem. Fui feliz porque não pedi cousa nenhuma, Nem procurei achar nada, Nem achei que houvesse mais explicação Que a palavra explicação não ter sentido nenhum. Não desejei senão estar ao sol ou a chuva _ Ao sol quando havia sol E a chuva quando estava chovendo ( E nunca a outra cousa ), Sentir calor e frio e vento, E não ir mais longe. Uma vez amei,julguei que me amariam, Mas não fui amado. Não fui amado pela única grande razão_ Porque não tinha que ser. Consolei_me voltando ao sol e à chuva, E sentando_me outra vez à porta de casa. Os campos,afinal,não são tão verdes para os que são amados Como para os que não o são. Sentir é estar distraído. (Alberto Caeiro)

Saudade?

A saudade tem razão de existir,quando superam o discurso vazio,o comodismo,a indiferença e o declarante resolve,por fim,tratar de si próprio! Acabe com a saudade! Que eu saiba,você sabe muito bem o que fazer. O interfone tá quebrado,então escale o edifício. Os sonhos lúcidos ou não, a esperança,o friozinho na espinha estão rareando...tá sob sua responsabilidade; morte ou vida pra esse amor! Vai dizer que tudo isso é só meu? Que eu criei sozinha? Sonhei então, com os beijos,abraços,olhares

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Sou eu e só...

Vou seguindo a sombra que me segue, enquanto escrevo em pensamentos a rotina da vida em comum, a que foi abortada, que se perdeu por entre ruas desertas.
Anseio pela liberdade, preciso sentir o ar novo gelando minhas narinas.Abandonar a carcaça animal que não era eu...
Vou sendo o que sou e só!
Não dá tempo de mudar,arquitetar planos maquiavélicos, manipular...
Tudo o que eu sei é ser...só eu!
Comigo mesmo, tentando perceber os erros comparados aos índices de suficiência e idealização.
Parei de ser boa ou má. Nem triste nem alegre. Nem só nem acompanhada...
Rio sujo, lagoa cristalina...
O sol se põe em mim...

sábado, 8 de setembro de 2012

Saudades sem vírgula

Tem hora que não sei mais descriminar, saber ou sentir o que é melhor para mim. Simplesmente, porque o sentir nem sempre permite a escolha. Se sente e só!

E a saudade,por vezes vilã,por vezes redentora;às vezes cala em lágrimas,outras vezes deixa que sorrisos escapem. Tem dias que me faz voar, em outros causa sufoco. E só!

E a saudade boa? A galopante, vem sem vírgula e é partilhada entre as duas pessoas.Só!

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Dream on 1

Pois é, farei deste espaço meu diário de sonhos bizarros,pois quem sabe um dia analisando eu consiga ver sentido em cada noite de sonhos malucos...
Eu sonhei que descobria quem era a minha mãe biológica e, pasmem, era uma prima minha ( que já faleceu)...muita intriga rolou no sonho,mas o sentimento predominante em mim era o de porquê o meu suposto avô me detestou tanto durante sua vida...
E eis que há a revelação de que na verdade, meu aniversário era dia 28/06. Será que eu vou morrer nesse dia?????     

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

E que venha!

Vou indo...e que venha! Vou seguindo a vida,posto que ela continua até que acabe...e usando palavras que tragam à tona o óbvio.
E ações que tragam distrações úteis,pois como dizia Renato Russo " já que você não está aqui o que posso fazer é cuidar de mim".
E sigo cuidando, sentindo dor muscular porque é melhor do que dor da alma! Assumindo o controle onde posso assumir...

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Surpresa...

Tem gente que atribuí à palavra "surpresa" um caráter negativo,outros, apostam no significado positivo deste termo. Eu afirmo que quero a surpresa e dessa vez, só me reservem o lado brando e positivo da coisa.
Já me surpreendi com atitudes imbecis de homens velhos, já me surpreendi com a falta de respeito, com o egoísmo, com a irresponsabilidade...enfim, com todo o tipo de imbecilidades!
Procuro em mim mesma o fator surpreendente.Qualquer coisa que me faça bem, garanto que entrará imediatamente na minha lista! Qualquer sorriso que seja insubstituível! Qualquer toque que marque a alma! Qualquer livro que me leve para longe de mim! Qualquer música que me dê felicidade!

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Mastigando vidro

Os momentos mantêm o fluxo constante, o even flow, as idas e vindas, alegrias e tristezas, esperança e realidade...mas, começamos a mastigar vidro quando a equação desequilibra.

Já contei estrelas para desafiar a crença de que deste ato resultariam verrugas, já acreditei que a luz da lua era própria e capaz de trazer bons auspícios, já vi a lua e o céu dentro do mar, já pintei o céu de cor-de-rosa, já dormi no ombro do ser amado, já ri sozinha dentro de ônibus...

Fiz planos que nunca saíram da minha cabeça,mas os realizei em sonhos. Corri da chuva, corri para a chuva. Fiz festa surpresa e me surpreendi.Amei muito sem a certeza de ter sido amada. Arranquei pêlos com pinça,só para pinçar o tempo. Sufoquei a declaração de amor e o grito de solidão. Cuspi decepções e amarguras. Chorei em soluços,naquele mesmo ombro...

Senti frio,dor nos joelhos,raiva,amor,enjoo,esperança,coceira...arranhei minha pele e cheguei mesmo a querer cortá-la,simplesmente para sentir outra coisa...

Quis morrer um pouco,quis viver o sonho...não sozinha...


domingo, 22 de julho de 2012

O não ser

Gostaria de ostentar com mais convicção a imagem de pessoa feliz que eu costumava ter, só pra ocultar as lacunas, as faltas todas.
No entanto, hoje,muitas vezes meu sorriso parece rasgar meu rosto, porque são muitas as faltas e nada acontece que me traga o brilho de outrora, o frio na barriga, a esperança perdida...
Difícil admitir quando se perde,pois mesmo quando estamos na lona, sempre tem gente na plateia que acredite que você é forte o suficiente pra superar...só que às vezes parece que a alma se rompe em pedaços que jamais se juntarão.
Devo ser otimista? Ter fé? Juro que a cada dia, a cada nascer do sol eu luto... e ainda sorrio,mesmo tendo que arcar com a dor deste sorriso destituído de felicidade...
Será que vai ser assim pra sempre???Quanto é mesmo o pra sempre???Posso pedir pra saltar???

terça-feira, 19 de junho de 2012

Carne viva


  1. "Transformar problemas em aprendizado"
  2. "Seja você a mudança que espera dos outros"
  3. "O que é seu,volta"
  4. "Tudo tem seu tempo"
  5. "O problema não é você,sou eu"
  6. "O que não te mata te fortalece"


Ah, tá! Resolvi expor o que sinto sobre estas cansativas frases edificantes. Sempre as mesmas fatídicas frases rasas que só servem de esconderijo às frustrações. Será que tem alguém realmente que, depois de anos de decepções, consiga consolo lendo essas drogas?
Ou usa-se esse lixo tóxico só para fingir à plateia pagante que "estamos bem, obrigada. Porque o melhor virá..."

1. Tá, transformo o problema em aprendizado e faço o quê? Como com fritas?O grande lance seria ter mais satisfação, menos problemas, mas...nada que uma frase ridícula de biscoito da sorte não resolva,ok?
2. Eu mudo e lá fora nada muda...Se eu mudar de acordo com a forma que a vida vem me tratando ao longo dos anos, viro monstro e o Coringa perderia feio...
3. Ioiô vai...e volta! E, definitivamente, por ser objeto pode ser meu,seu,nosso...qualquer possessivo que o valha. Agora gente não é de ninguém, gente não é passível de se transformar em algo possuído. Amém?
4. O que é tudo? O que é nada? O que é o lixo do tempo, senão o fator angustiante que nos fustiga a alma?
5. E o problema nunca sou eu...porque eu sou "inteligente, bem-humorada,bonita, articulada e mereço alguém melhor". Ok, agora dá para parar o ensaio que eu quero a verdade?
6. Ok! Todo Poderoso, dá para desviar as porradas e o treinamento de ninja para outros que necessitam do aprendizado?...Porque afinal "tudo tem seu tempo" e que eu saiba, chute na bunda não fortalece musculatura de ninguém...

E é isso tudo...ou nada! Porque não dá para fingir o tempo todo, simular a tal falsa felicidade. As frases vazias não preenchem realmente expectativa alguma. E se é pra fortalecer que seja na carne viva, sem anestesia...ou fortalece,ou mata a alma.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Hollywood de Charles Bukowski

Acabei de ler o tal livro, Hollywood e, a grosso modo trata-se de uma história medíocre ( creio que com o claro propósito de criticar as celebridades de Hollywood),mas que conta com diálogos cortantes, verdadeiros, fantásticos...a personagem principal é um cara que em muito lembra meu querido Dr. House,ou seja, um cara que desistiu da humanidade.

"Paguei ao garçom, descemos dos tamboretes e nos dirigimos para a porta. Tornei a notar os blusões de couro, a suavidade dos rostos e a sensação de que não havia muita alegria ou audácia em nenhum deles. Faltava totalmente alguma coisa nos pobres sujeitos, e alguma coisa em mim doeu, apenas por um instante, e senti vontade de abraçá-los, consolá-los e beijá-los como um Dostoiévski,mas sabia que isso no fim não levaria a nada, a não ser ao ridículo e à humilhação, para mim mesmo e para eles. De algum modo, o mundo tinha ido longe demais, e a bondade espontânea jamais poderia ser tão fácil. Era algo por que teríamos de tornar a batalhar." ( pág. 67)

"_ Não,mas eu não sei o que fazer.
 _ Comece por algum lugar...
 _ Não tenho colhões. Estou muito preocupado com meu próprio rabo branco. Vamos nos juntar a esse alegre grupo aí e pegar mais umas bebidas.
_ É sua resposta pra tudo:beber.
_ Não, essa é minha resposta pra nada" (pág.132)

" Eu me lembrava de Jane subindo aquele mesmo morro, eu atrás carregando um grande saco de garrafas. Só que quando ela gritara "Eu quero um pouco de milho!" fora como se quisesse de volta o mundo todo, o mundo que de alguma forma perdera, ou o mundo que de algum modo a deixara de lado. O milho seria sua vitória, sua recompensa, sua vingança, sua canção." ( pág. 252)

Desistiu sim! Não há mais o brilho, a esperança...apenas uma coleção de decepções a partir daqueles que achamos que jamais nos decepcionarão... 

terça-feira, 5 de junho de 2012

A novela

Num momento catártico qualquer, logo após meia-noite, me acometeu uma ideia inédita, inaugurando em meu cérebro como célebre lançamento de novela das oito...

Uma das diferenças fundamentais entre os gêneros romance e novela é que, no primeiro, temos um núcleo de personagens principais aos redor dos quais se desenvolve toda a trama; no segundo, temos vários núcleos ( pobres,ricos,bonzinhos, malvados...rs) de personagens que atuam concomitantemente e com o mesmo grau de importância para o desenvolvimento da trama.

Definido! Vida é novela! E no auge de sua soberania, Deus - o diretor, vai assistindo nossas vidas, por vezes empolgado, outras enfadonhamente.Milhares de capítulos de novela mexicana da mais clássica!
E entre uma mudança de canal e outra ( posto que Ele não é muito chegado a comerciais...), acontecem os momentos mais tristes, mais sós, mais angustiantes, mais dolorosos...

Ops! Acho que meu canal está fora de sintonia há algum tempo...

domingo, 3 de junho de 2012

Quebra de paradigma I: o suicídio

Longe de mim usar este espaço para fazer apologia ao suicídio.Não é nada disso,mas com o decorrer do tempo, vamos aprendendo a nos despojar de certos julgamentos.
Antigamente ( nem tão -mente assim...), quando abordada sobre o assunto, eu terminantemente me colocava autoritariamente contra esse ato,julgando os suicidas como covardes, fracos e manipuladores...vá lá,manipuladores alguns devem ser,mas o ser humano é único e por isso, não cabe a mim julgar seus atos.
Acho que nessa época, eu ainda não estava tão sofrida e cansada para entender. O suicida, no final, não passa de uma pessoa que levou sua fé ao extremo! Ele aposta que, enfim, no momento derradeiro a vida possa surpreender e trazer a ele o alento, a paz, a felicidade perdidos...

Similar ao momento em que a garota grita que não quer mais,quando na verdade tudo que ela mais gostaria é que o garoto a tomasse em seus braços...

Similar à criança que tem um desejo frustrado e chacoalha os ombros dizendo nenhum pouco convincente :"eu não queria mesmo"...

Simples assim...

Andrea Doria

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Retrato

Por não estarem distraídos


Por Não Estarem Distraídos – Clarice Lispector
Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que, por admiração, se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque – a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras – e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.

domingo, 20 de maio de 2012

Um nome

Uma pergunta ecoa em minhas vagas horas de pensamentos vagos e vãos: será que meu nome persegue seus dias?
Venho pretendendo esvaziar-me de expectativas,querendo andar avulsa pela vida! Leio seu nome pelas ruas que ando. Vejo você nos filmes que assisto. Criação de uma alma solitária que precisa se apegar a sonhos para sobreviver?Pode ser...
Projeto-me na tela: o carinho que me nega e que tanta falta me faz,absorvo através da ilusão. Alimento assim sonhos que crescem prodigiosamente como um Tsunami,pleno de força,mas que também se desfaz em espuma na areia da praia...a areia como esponja, dilui os sonhos. A água salgada só destrói os castelos,porém sempre haverá uma criança sentada no chão,juntando areia em seu baldinho para construir um novo castelo...

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Nada vem de graça...

...nem o pão,nem a cachaça - na voz do querido Baleiro!
Problema é o preço alto que se paga em certos momentos da vida...o consolo eterno é de que o tempo "cura" e que "tudo passa" e, acreditemos ou não,enquanto tudo passa,também passamos...posto que somos meros e alguns "reles" mortais!
Por isso minha aversão ao Chronos...implacável,insaciável...
Um dia eu me entendo.Um dia eu entendo os desígnios. Um dia entendo destino e acaso. Um dia entendo livre-arbítrio...nem que seja no final de tudo!

Uma carta, madrugada de 11/05/12

Não sei por quanto tempo mais suportarei,aliás,já não suporto.Sigo fingindo que está tudo bem e confesso que meu riso de escárnio vem se potencializando...mas, aquela ausência ainda me corrói a alma.
Às vezes me esforço para odiá-lo por não me querer, odiá-lo por não se importar com minha solidão e ausência de você, odiá-lo por sequer me odiar e mostrar claramente meus pontos de "insuficiência"...porém,não consigo.Será fraqueza? Talvez eu tenha sido fraca a vida toda, e esse sentimento todo que me permito viver,talvez seja a prova de que ,enfim,não preciso mais me esconder de mim mesma e portanto me faço realmente forte.
Tenho falado muito a frase "estou cansada",cansaço de espera, de esperança...
Ontem quando vi a lua, lembrei de momentos em que a admiramos juntos...senti saudade,caí em prantos por pensar que talvez não tenhamos mais estes momentos simples, no entanto, carregados de tanto significado ( ao meno pra mim...).
"Trocentas vezes" assisti ao filme"Tudo pode dar certo" ,aquele que assistimos juntos. Maneira inútil de te trazer de volta, maneira boba de sentir você enrolado em mim, maneira estúpida de me torturar...
Por enquanto coleciono o desencanto, e ironicamente, me sinto no canto de minha vida. Não me acompanham alegrias verdadeiras;por enquanto vou me acostumando com sua falta. Organizo o quarto, leio, escrevo, converso, dou até risada...mas, acho um pouco menos na vida. Será só isso?
Queria voltar a ser a "Roberta Enxaqueca" que ao menor sinal de alerta ,teclava sem remorso a tecla: dane-se!
Enquanto escrevo,penso se as palavras chegarão até você,mas a expectativa é quase nula, análoga ao grito dado dentro da caverna em que temos de volta nossa própria voz.
E tenho lido Eclesiastes...e a vida deve mesmo ser uma baita ilusão,mas com você era uma ilusão que dava sentido à vida. No mais, nada de novo debaixo do sol...( Te quero bem!)

sábado, 12 de maio de 2012

Cupido vesgo ou caolho

Penso com ironia na vida e vejo lá fora a lua,que me espreita solitária,dentro da minha solidão...
No rádio,toca Terra de Gigantes do Engenheiros do Hawaí, e nada substancial me fala, só a parte que diz que "o mundo todo é uma ilha...há milhas e milhas e milhas".
O céu continua exibindo seu sorriso radiante personificado através da lua minguante. Que ironia! Não consigo enxergar as estrelas que a mim, figurariam as lágrimas que permeiam a realidade, as lágrimas solidárias que rolariam também, na face da noite...mas a noite, indiferente, sorri! Sorriem os felizes casais apaixonados sob a luz do luar,sorriem os que tiveram a sorte de contar com um Cupido que não fosse vesgo ou caolho.
Será que temos um Cupido pessoal? Assim com os anjos da guarda, cada casal em potencial, teria um fiel escudeiro ( ou seria flecheiro???) para dar uma mãozinha ao amor? Se assim for, o meu Cupido só ferra comigo...só flechada desencontrada. E nesse ínterim,quem fica toda perfurada,feito peneira,sou "euzinha".
Pobre Cupido meu! Até tenta! Só que a abençoada flecha que deveria atingir o meu coração e o de outro ser "em potencial", atinge só o meu. Um arregaço...
Assim que a ponta da flecha entra, nem dói. Invade o peito uma euforia, alegria, esperança...talvez o tal amor amenize algumas dores pertinentes à viver. De repente, faz-se luz e esperança!
No entanto, a flecha sozinha no peito, rompe artérias e dilacera o amor. Depois a flecha caí e fica só um resto de coração,com um imenso buraco, através do qual se esvai todo o sonho...daí a dor entra, e toma-se consciência que não fomos parte dos planos de ninguém mais.
Então, viver passa a ser uma sequência insólita de acordar/dormir sem sentido, sem rumo, sem querer...viver.

Boneca de vudu...

Estou achando que a cada dia, há alguém espetando uma nova agulha em mim...
Quando acho que ficou no passado,quando acho que vou respirar sem sentir dor,quando acho que vou dormir e acordar consciente de que tudo não passou de um sonho...lá vem mais uma agulhada e a realidade passa de carro pela faixa que eu queria passar a pé...
E naquele momento,enquanto as pernas bambearam, tive a certeza de que tudo o que eu mais queria era ver o carro preto fazer um retorno e vir ao meu encontro...também passou pela minha cabeça ( e acreditem,passa rápido de mais...) a cena em que eu corria entre os carros ou mesmo pela calçada,só para ver um rosto barbudo. O que fiz? Nada, afinal "é o que tem pra hoje"...
Fiquei embasbacada,parada e olhando o carro se afastar cada vez mais...
Engana-se quem acha que o afastamento é sinônimo de esquecimento,pra mim ao menos...
Podia ter dado meia volta na vida,mudado o destino...mas, o destino é outro. E eu? Distração do meio do caminho? Nem isso...
Queria encurtar tudo,obliterar,submeter a uma vontade nova,mas qual vontade nova? Nada de novo debaixo do sol,nada de novo dentro de mim...
Só dói,arde o peito. Tenho vontade de esmurrar tudo ao meu redor e me machucar para ao menos, sentir outro tipo de dor. Nem isso,perdi a coragem de viver e de morrer.

domingo, 6 de maio de 2012

Semi mim II

Ando deveras inconformada que a vida seja tão pouco...
Sinto-me oca,ressequida...ressentida,sozinha.
Às vezes gostaria que me invadisse o antigo sentimento de otimismo e esperança, apontando para um futuro de felicidade,mas tenho medo de ser ,mais uma vez, feita de idiota pela vida;medo de ficar a ver navios em meio ao mar de lágrimas...
No mais, acho que o rancor deve me fazer bem...
A dor também...devo combinar com esses sentimentos ou eles foram marcados em mim como tatuagem quando eu nasci.
O lance é ir percebendo que a vida não passa de um emaranhado de ações práticas que não levam a lugar nenhum,onde nada faz sentido e onde amar não vale a pena... 

Semi mim I

Alguém disse que é preciso cuidar do nosso próprio jardim para que as borboletas venham até ele...não lembro quem disse, se é alguém merecedor de meu prestígio, porém discordo,já que estou crendo que sou um ser discordante com o Universo...
Quem disse que queremos borboletas enxeridas para espalhar pólen e bagunçar mais os jardins caóticos que constituem meu íntimo?
Talvez em certos momentos eu tenha querido...parei de crer. Talvez eu esteja num momento de metamorfose "ambulante" em que tudo o que posso fazer é me desfolhar completamente, sem resistência ao vento...deixar cair o que resta de mim: folhas,sonhos,pétalas,esperanças...
Deixar cair tudo para que o que outrora me inspirou e nutriu possa agora, nutrir outras sementes que sejam  melhores que eu.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Ao longo das janelas mortas

Ao longo das janelas mortas
Ao longo das janelas mortas
Meu passo bate as calçadas.
Que estranho bate!...Será
Que a minha perna é de pau?
Ah, que esta vida é automática!
Estou exausto da gravitação dos astros!
Vou dar um tiro neste poema horrivel!
Vou apitar chamando os guardas, os anjos, Nosso
Senhor, as prostitutas, os mortos!
Venham ver a minha degradação,
A minha sede insaciável de não sei o quê,
As minhas rugas.
Tombai, estrelas de conta,
Lua falsa de papelão,
Manto bordado do céu!
Tombai, cobri com a santa inutilidade vossa
Esta carcaça miserável de sonho...
Mário Quintana

sexta-feira, 20 de abril de 2012

"Você vai deixar na lista de amanhã...chorar..."

É tarde
(Skank)

Se você olhar um pouco ao seu redorVai poder notar que a noite já caiuSe você voltar pra casa e não achar ninguémVai notar que na cidade falta alguém
Se você ligar o rádioTodas as canções irão dizer: Goodbye, so long, my love
Se você ligar o rádioTodas elas juntas vão dizer: é tarde
Se você perdeu agora a ilusãoDe que os fatos eram fios em suas mãosVai querer tirar do armário o velho violãoVai notar que ainda falta uma canção
Se você ligar o rádioTodas as canções irão dizer: Goodbye, so long, my love
Você vai deixar na listadas tarefas de amanhã: chorar mais tarde
E quando o sol da manhã bater na porta E quando nada lá fora agora importaTudo bem, é tarde 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Chapeuzinho...

E pela estrada afora,continuo bem sozinha...só não sabia que dói tanto perder as esperanças...

quarta-feira, 11 de abril de 2012

E tudo sempre esteve bem...para "eles"! EU que não percebi ou não quis enxergar ou não achei que merecesse algo além de horas de migalhas e culpa! Ainda não me conformo de ter sido só isso para "ele"...pra mim não foi só isso,não pode ser! Não posso ter me enganado tanto,mas enfim, que diferença essas conclusões farão? A mesma diferença que meu amor fez até hoje: NENHUMA!

Aprendendo a ser morna!

Sempre fui uma crítica ferrenha aos que seguem pela vida "mornamente"...aqueles que se conformam com o "quase", com o que "merecem de acordo com as leis divinas",aqueles que preferem a "monotonia e o tédio" ao invés de avançar rumo ao desconhecido de si mesmos...
Sempre achei enfadonho e desperdício de vida.

Hoje ao contrário, vejo que há tempo para tudo: os sonhos, os planos, o caminhar firme, o olhar para o horizonte com esperanças, o esperar o inesperado...
Hoje vejo que, por vezes, desistir é provar-se forte o suficiente para não mais escolher sofrer. E entre o sofrimento e a vida morna? Bingo! Escolho o ser morna.

Sorrir nem sempre constitui alegria, sair nem sempre é divertido,assistir a um filme às vezes não passa de fuga de si próprio, andar pela rua não passa de perambular, olhar para o céu é busca de ar para melhorar a respiração...e os sonhos estilhaçados pelo caminho, constituem o nada, a sombra do que se foi e que não se tem coragem de ser mais!
Perde-se a coragem,quando perde-se a esperança de dias de felicidade. Perde-se tudo,quando não alimentamos mais a crença no amor. Na verdade, parece que a maioria das pessoas se vende por muito pouco: um apartamento pra morar, um carro na garagem e o suficiente no banco para ir ao cinema duas vezes por mês. E tudo bem viver num clima inóspito,onde impera o mau humor e a insatisfação eternos...o importante é que tenhamos bens materiais e, acima de tudo, que não sejamos julgados como más pessoas por, ao menos uma vez na vida, tentarmos fazer escolhas que nos façam felizes!

Acho que por essa prisão social que nos auto imputamos, vamos lotando as igrejas evangélicas e consultórios psiquiátricos "em busca de milagres"...

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Nem pensei...

Quando eu ouvia dizerem sobre dores da alma, achava tudo exagerado. Não conseguia vislumbrar nenhuma possibilidade que, de tanto sentir a alma se esvair, isso pudesse se transformar efetivamente em dor física...
Pois é, mais um aprendizado da vida. E devo agradecer,certo?
Obrigada pela alma doer tanto que chego a sentir arder o sangue que circula no meu corpo. Obrigada pela dor no peito...que é real!
Obrigada pela vontade de dormir por 22 horas seguidas...se possível fosse!
Obrigada por não haver mais ansiedade,pois já não espero nada!
Obrigada pelo caos,pelo tempo que não espera, pela constância do choro,pelo arrastar dos passos,e principalmente, obrigada pelos músculos involuntários existirem, senão algumas funções vitais estariam prejudicadas em mim...

Um mais um...

Letra linda da música do Skank...

Éramos nós
Éramos nós
Um mais um
Éramos mais
Que só dois

Éramos um
Feito de dois
Mais que nós dois
Nunca então sós

Eu era eu
Quando era nela
Ela em mim
Como ela era

Éramos um
Feito de dois
Mais que nós
Nunca então sós

Soma sem subtração
Múltiplos sem divisão
Dois que se amavam então
Éramos multidão

E na matemática torta
Da vida aqui sem ela
Dois menos um é zero
Eu não sou nada do que eu era

P.S.: e tem aquela outra, chamada Três lados,cujo trecho dito foi esse: " E quanto a mim, não é o fim.Nem há razão pra que um dia acabe". Sorte a música perdurar...porque as palavras ditas, se perderam por aí...

sábado, 31 de março de 2012

Adeus...

...mundo cruel!!! Adeus mundo cruel!!! E então, a personagem do desenho animado despenca de um penhasco, achata no chão e depois sai andando...
Acho que quero esta frase na minha lápide...de preferência de néon...brilhando mais do que Casa da Luz Vermelha em plena Última Morada...e os fantasmas se divertem kkkkkkkk

Adeus março...

A impressão que tenho é de estar sempre me despedindo de alguma data, algum período ou levando o chute de alguém...kkkkk
Mas, só por uma questão de princípios,manterei minha tradição,mesmo que equívoca...afinal, detenho poucas coisas e pessoas,logo, tenho direito de estabelecer regras para não enlouquecer ou o que o valha!
Mês idiota...
Vazio...triste...solitário...anestesiante... paralisante...asfixiante...
O que ficou desses dias, apenas entorpecimento e dor...alguns simulacros de satisfação...alguma felicidade verdadeira com amigos...
Mas eu vou andando,chutando terra seca...fazendo eco de uma fala que já não me pertence...dormindo cedo e acordando tarde para não sentir!

E simbora porque o mundo não favorece os fortes...fazêoquê?

terça-feira, 27 de março de 2012

O desespero

Tem sido extremamente penoso abrir os olhos pela manhã...eu desespero. Falta tudo: ar, disposição, você, sonhos, realizações...
Mas diferentemente de quem se esconde atrás de diagnósticos ilusórios, teimo em levantar, só pra ver se no decorrer das horas se desdobra alguma graça a meu favor...
Triste chegar ao final do dia, começo da noite, madrugada a dentro, sem que se revelem coisas boas para mim. Por que na boa? Tô cheia de surpresas desagradáveis...de verdade: eu passo!
Entrego-me completamente ao meu trabalho, para abstrair...não pensar. Constato: não pensar é impossível! Não lembrar: idem! Portanto vou carregando os dias...conformada de que tudo o que abraço no momento, se esvai no ar. É ar, é etéreo...
Retardo o momento de deitar,pois impreterivelmente, rolo na cama fugindo de recordações...
Por que não é tão simples para mim quanto é para você? Por que não basta virar a página deste livro que eu escrevi sozinha?Sabe, o livro teve suas partes de suspense, outras de terror,mas ainda assim, me supriu de um sentimento desconhecido...será que então, devo queimar as páginas todas dessa história sem fim?
Se bem que houve um "nunca mais" de minha parte, dito no calor da cólera;porém, houve uma concordância no auge do seu gênio glacial...fogo e gelo;terra e ar...eu comigo mesma.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Segunda-feira...

Acordei duas vezes...voltei a dormir! Acordo cansada, a saudade pesa...
Nunca imaginei que fosse tão difícil tomar a decisão certa e sustentá-la,mais por orgulho do que por certeza de que ,enfim, tomei a decisão certa...
Juro que estou me esforçando para olhar o mundo com a graça de outrora,juro que sim...
Juro que tenho pensado que acontecem as coisas que precisam acontecer,nem que isso signifique minha falência emocional e perda total de esperança no amor...
Eu ainda procuro beleza no caminho, simples beleza de flores e nuvens...mas, ainda dói. Parece que cada lembrança vem e traduz o que sinto num misto de alegria e dor.
E que a semana permita que eu não apenas sobreviva...

sábado, 24 de março de 2012

Insônia...

Acabei de ler o livro de Stephen King...Insônia. Incrível como os livros certos ,nos momentos em que necessito, caem em minhas mãos...
Insônia, morte, Doutorezinhos Carecas, Acaso, Desígnio...

"Ralph refletiu por instantes nas semelhanças entre a solidão e a insônia - como ambas eram traiçoeiras, acumulativas e divisórias,amigas do desespero e inimigas do amor - mas logo afastou esses pensamentos..."

" A vida é uma roda, pensou Ralph, e ocorreu-lhe que não era a primeira vez que tal ideia lhe surgia. Mais cedo ou mais tarde tudo o que você pensou ter deixado para trás torna a aparecer. Para o bem ou para o mal, torna a aparecer"

O filme

"Sinto algo por você que é muito bom quero ter você por perto, mas diferente do "personagem" do filme que vimos não consigo ser egoísta"

Importante ressaltar que ,na minha concepção até que tem sentido o que foi dito...só questiono o "não conseguir ser egoísta".
Acho que conseguiu...reservou a quota de egoísmo para mim,quando desprezou o que eu sentia, se importando só com manter-se livre de uma culpa,com sua personalidade e com o bem-estar de uma coisa que migrou para SP.
Quando "imaginou" que para mim tudo seria mais fácil,posto que eu não tinha ninguém ao meu lado: Já parou para pensar o quão difícil é quando não se tem ninguém??? Já pensou como é passar por tudo sozinha...sempre??? Imagine o que é amar alguém que acha que você é forte o suficiente para superar sua ausência sozinha...

P.S.: Em tempo, o filme é Closer...

quarta-feira, 21 de março de 2012

O sonho

Fazia tempo que você não entrava no meu sonho...
Acordei feliz! Acho que pedi tanto a Deus para me amparar e me trazer uma boa noite de sono,que Ele caprichou...agradeço!

Eu dormia e de repente acordei e olhei através da janela aberta. Bem distante, vi você. Não sabia se me olhava ao despertar,mas resolvi encará-lo também...eis que você começa a sinalizar,pedir para que eu fosse até você, no estabelecimento comercial em que se encontrava...
Eu levantei sorrindo.É, eu sorri...e fui tomar uma ducha. Aproveitei o banho e lavei umas botas que tinham terra na sola...
Fui até você...

terça-feira, 20 de março de 2012

Metáfora de mim

Não sou muito de viajar,acho que o medo de avião me bloqueia um pouco,mas estabeleço analogias entre os desacontecimentos de minha vida e os lugares que não fui...

"Ando pelas planícies áridas do Iraque e o sol, teima em ofuscar minha visão. Caminho infinitos quilômetros que parecem sempre me trazer a uma mesma rua de terra batida e pedriscos soltos. Não temo qualquer ataque aéreo,nem balas perdidas...arrasto meus pés e corpo pesados e, recarrego as forças que restam dando pequenos goles na água fervente do cantil que carrego.
No decorrer de minha caminhada, me despojei de supérfluos: ilusão, esperança,crença no amor. Concluo que, nada devo encontrar que valha a pena o peso de uma jornada que, lá na frente, se mostrará inútil ( ou insuficiente???). Quero minha mochila vazia...
Tudo o que tenho agora é cansaço, sede e visão turva. Nada me falta,posto que nada mais procuro. E fazendo alusão à "Alice no país das maravilhas", não importa o caminho escolhido, uma vez que não sei onde quero ( e se quero...) chegar. Viver é andar! Ciclicamente, involuntariamente, pesadamente, zumbizamente...
Minhas pernas , as sinto trêmulas. E por um instinto idiota de sobrevivência, procuro por sombras, onde possa descansar e fechar um pouco meus olhos cansados...
Depois de 18 dias sob o sol escaldante e extenuante,encontro o que outrora fora um lar. Pelos alicerces que restaram e algumas paredes descascadas,concluo que ali havia uma simples residência de cinco cômodos. È o lugar ideal para encontrar a tão almejada sombra...
Sento-me sobre os escombros e recosto minha cabeça de pensamentos desconexos em uma das paredes restantes...quero fechar os olhos,mas algo me impele a não fazê-lo. Olho para o céu sem nuvens e depois, começo a investigar os restos de um sonho: pedras pelo chão, paredes partidas, cacos de vidro, madeiras despedaçadas e...uma foto.
Uma foto sobrevivente e desgastada pelo tempo, que milagrosamente tenta contar uma história antes que ocorresse o massacre.
A foto contou a história que eu quis ler: um homem,uma mulher. Sorriam e ,talvez, fossem felizes. Talvez não. Talvez ela o amasse e ele não. Talvez ele a amasse também. Talvez tudo fosse ilusão,inclusive a existência da foto.
De qualquer forma e sob quaisquer possibilidades, essa história estava ali, jogada e morta sob os escombros.
Largo a foto que escorrega de meu colo, encosto a cabeça na parede e agora já posso fechar os olhos e as portas imaginárias daquela casa. Faz frio, me encolho. Mas, me sinto leve e vivo,mesmo sobre os escombros..."

segunda-feira, 19 de março de 2012

Sete cidades

Acordei com essa música na cabeça...
O que sinto,ninguém tira de mim. O que gosto, fica dentro de mim,fica ao redor de mim feito satélite natural...

sexta-feira, 16 de março de 2012

Insônia de Stephen King

Diz tudo...

"...seus pensamentos rugiam de terror e confusão e quando começou a mover as pernas, a sensação que teve não foi de andar, mas de cair, do mesmo jeito que caíra da cama na madrugada anterior. Contudo,prosseguiu. Por vezes essa era a única coisa a fazer." (pág. 282)

quinta-feira, 15 de março de 2012

Tristesse -Chopin

O quereres

Talvez esse sufocamento passe...e digo, difícil perceber que pela estrada, sou eu e minha sombra apenas, e por vezes a brisa que sopra no meu rosto fazendo com que os olhos se fechem.
Ainda não me despojei dos sonhos, isso deve acontecer ainda. Não sei se aos poucos, não sei se carregarei ainda por muito tempo a sensação de insuficiência e impotência.
Por mim, me entregaria a essa história. Percalços? Superaria, não tenho medo...e queria muito.
No entanto, depois de alguns dias querendo "culpar" quem nem merece o fardo da culpa,percebo que eu queria, a outra parte simplesmente não quer...

Simples: "não quer"!
A escolha nunca foi devido a dedicação à migração da baleia do RN, não foi por se achar inseguro,não foi por pressão familiar,talvez não tenha sido por não me amar...foi por não querer!

sábado, 10 de março de 2012

Caminhar...

Hoje sai para andar, sem ter para onde ir...e claro, não fui longe! Andei o suficiente para tentar me equilibrar sobre minhas pernas,mas venho sentindo meu corpo e alma como peças de uma quebra-cabeça impossível de montar,onde nenhuma peça se encaixa...
Mas, ainda assim, gosto de andar e cruzar rostos estranhos e, penso, quais as máculas que esses rostos estranhos carregam na alma...
Constato: às vezes um estranho, pode desejar profundamente, que outro estranho,não sinta mais dor!

sexta-feira, 9 de março de 2012

Vida? Destino?

E eis que, passada a adrenalina, resta um monte de vazio em mim...
Andar é sacrifício,mas respirar...ah,respirar nunca foi tão dolorido!
Só que tem o seguinte, se a "vida","destino", ou o que quer que o valha acha que eu me contento com prêmios de consolação, melhor embrulhá-los e enfiá-los profundamente.
Quero o que me traga plena e, não, qualquer lixo sobrando numa esquina qualquer...em troca disso, prefiro assistir tevê e comer pipoca,pelo menos ainda me guarda um certo prazer fazendo estas coisas...
Difícil entender que eu quero "o que eu quero" e jamais aceitarei "lixo" em troca dos meus sonhos??????

Que fique bem claro, de uma vez por todas, Srª Vida, Sr. Destino ou o que valha...

terça-feira, 6 de março de 2012

O despertar de março/2012

Não sei quantos dos que por aqui passam, despertam de mau humor...
Eu costumava acordar com um tremendo bode! Incapaz de responder a perguntas feitas antes das 09:00h da madrugada. Com o passar do tempo e com as reprimendas que levei, comecei a me analisar e consegui mudar um pouco o jeito de acordar...
Acordo mais leve, consigo falar , rir e até cantar...
Fazia tempo que não me acometia a revolta e o mau humor ao acordar...até que por volta das 22h do dia 02/03/2012...o meu despertar veio flamejante, cheio de dor e revolta!
"Acho" que,enfim acordei! Acordei de um sonho que só o meu subconsciente povoava. Acordei sozinha, assim como dormi. Acordei com o gosto ruim na boca e olhos cheios de remela...
Acordei gritando, percebendo o quão injusta a vida pode ser com a gente...e que vai da gente suportar a injustiça ou se rebelar contra ela.
Suponho que todos tenhamos nascido com a mesma probabilidade de sermos felizes, então, grito a favor de minha parcela...

sexta-feira, 2 de março de 2012

Zumbizando....

Achei que podia existir algo, no fundo da alma que lembrasse vida...
Achei que o corpo que se locomove carregasse em si um sentimento verdadeiro...
Não pensei que era zumbi!
Mas era!!!Claro que sim! Comigo não deveria ser diferente! Não existe nada! Zumbi não tem alma...só a carne podre sedenta por mais carne!
Dói! Deve ser a última vez...pois cansei de ficar disponível a quem não quer minha presença.
Vá lá! Pegue sua carne de terceira e seja feliz! Tenha filhos, casa na cidade e no campo, só não me conte nada,pois preciso viver, senão por mim, pelos que me amam verdadeiramente...
Cansei! Acho que não serei o suficiente perante sua covardia...
Dói! Mas tem que me fortalecer...tenho que sobreviver...tenho que criar a armadura para nunca mais ser vulnerável a ninguém.
No mais...acho que Deus não existe! Ou existe para alguns...os escolhidos. E eu, definitivamente,não sou uma delas...azar o seu e de Deus!

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Sempre o céu...

Ontem não conseguia dormir...minha mente estava acelerada por tudo o que eu quero dizer e realizar e que ainda não veio...

Busquei o amparo olhando para as estrelas e pensei naquele momento, que Deus deve ter inventado o céu e as estrelas como um consolo aos aflitos e insones...

Daí, percebi que meu olhar contemplativo para o céu, tem que mudar...não dá mais para desviar os olhos para cima,buscando alguém,buscando a mudança. Quero olhar para o céu com a mudança concretizada!

Outra visão terei...

Talvez encontre estrelas que jamais percebi...
Talvez,enfim, o brilho da lua invada meu quarto quando não mais estiver só...
Vai cansando...os olhos, o coração, a mente...

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

29/01...31/01/2012...Ao infinito e além

Estou retomando passos antigos, devagar para não assustar e me assustar...devagar,porque a corrida cansa e nos faz falar e sentir coisas que não são inerentes às nossas verdades.

Ando buscando autenticidade, quero imprimi-la,grudá-la feito figurinha em quem eu gosto...quero distribuir a paz e fazer ficar em paz!

Levar o riso abundante,porque as lágrimas ficaram pra trás...

A brincadeira, a leveza precisam se estabelecer de onde jamais deveriam ter saído...

Ao invés de buscar um lugar dentro de alguém,quero pela primeira vez em muitos anos, ser esse "lugar" para alguém: casa ladeada de varanda,com vento fresco mudando as plantas de lugar...com cheiro de café na tarde...com nuvens cor-de-rosa ao final da tarde...e a lua resplandecente ao anoitecer...para iluminar tudo em nós!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Show do Lobão

Pois sim, passei o aniversário de Sampa no "Universo paralelo" de Lobão...
Perto demais do ídolo, perto demais de mim mesma...sozinha debaixo do sol, livre e ao mesmo tempo presa a uma série de pensamentos desconexos...
"O mundo parou, descontinuou..."

Simples assim, o Lobão com sua inteligência incomum,entende...

Só tem uma questão: não deviam levar crianças chatas para um show desses! Só as crianças "interessadas". Putzgrila,chateação de crianças passando toda hora,acompanhados de uma tia travestida de evangélica, que quase enfiou o guarda-chuva no meu olho e eu, o enfiaria na garganta dela...rs

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

I love my husband - Nélida Pinõn

Eu amo meu marido. De manhã à noite. Mal acordo, ofereço-lhe café. Ele suspira exausto da noite sempre maldormida e começa a barbear-se. Bato-lhe à porta três vezes, antes que o café esfrie. Ele grunhe com raiva e eu vocifero com aflição. Não quero meu esforço confundido com um líquido frio que ele tragará como me traga duas vezes por semana, especialmente no sábado.

Depois, arrumo-lhe o nó da gravata e ele protesta por consertar-lhe unicamente a parte menor de sua vida. Rio para que ele saia mais tranqüilo, capaz de enfrentar a vida lá fora e trazer de volta para a sala de visita um pão sempre quentinho e farto.

Ele diz que sou exigente, fico em casa lavando a louça, fazendo compras, e por cima reclamo da vida. Enquanto ele constrói o seu mundo com pequenos tijolos, e ainda que alguns destes muros venham ao chão, os amigos o cumprimentam pelo esforço de criar olarias de barro, todas sólidas e visíveis.

A mim também me saúdam por alimentar um homem que sonha com casas-grandes, senzalas e mocambos, e assim faz o país progredir. E é por isto que sou a sombra do homem que todos dizem eu amar. Deixo que o sol entre pela casa, para dourar os objetos comprados com esforço comum. Embora ele não me cumprimente pelos objetos fluorescentes. Ao contrário, através da certeza do meu amor, proclama que não faço outra coisa senão consumir o dinheiro que ele arrecada no verão. Eu peço então que compreenda minha nostalgia por uma terra antigamente trabalhada pela mulher, ele franze o rosto como se eu lhe estivesse propondo uma teoria que envergonha a família e a escritura definitiva do nosso apartamento.

O que mais quer, mulher, não lhe basta termos casado em comunhão de bens? E dizendo que eu era parte do seu futuro, que só ele porém tinha o direito de construir, percebi que a generosidade do homem habilitava-me a ser apenas dona de um passado com regras ditadas no convívio comum.

Comecei a ambicionar que maravilha não seria viver apenas no passado, antes que este tempo pretérito nos tenha sido ditado pelo homem que dizemos amar. Ele aplaudiu o meu projeto. Dentro de casa, no forno que era o lar, seria fácil alimentar o passado com ervas e mingau de aveia, para que ele, tranqüilo, gerisse o futuro. Decididamente, não podia ele preocupar-se com a matriz do meu ventre, que devia pertencer-lhe de modo a não precisar cheirar o meu sexo para descobrir quem mais, além dele, ali estivera, batera-lhe à porta, arranhara suas paredes com inscrições e datas.

Filho meu tem que ser só meu, confessou aos amigos no sábado do mês que recebíamos. E mulher tem que ser só minha e nem mesmo dela. A idéia de que eu não podia pertencer-me, tocar no meu sexo para expurgar-lhe os excessos, provocou-me o primeiro sobressalto na fantasia do passado em que até então estivera imersa. Então o homem, além de me haver naufragado no passado, quando se sentia livre para viver a vida a que ele apenas tinha acesso, precisava também atar minhas mãos, para minhas mãos não sentirem a doçura da própria pele, pois talvez esta doçura me ditasse em voz baixa que havia outras peles igualmente doces e privadas, cobertas de pêlo felpudo, e com a ajuda da língua podia lamber-se o seu sal?

Olhei meus dedos revoltada com as unhas longas pintadas de roxo. Unhas de tigre que reforçavam a minha identidade, grunhiam quanto à verdade do meu sexo. Alisei meu corpo, pensei, acaso sou mulher unicamente pelas garras longas e por revesti-las de ouro, prata, o ímpeto do sangue de um animal abatido no bosque? Ou porque o homem adorna-me de modo a que quando tire estas tintas de guerreira do rosto surpreende-se com uma face que Ihe é estranha, que ele cobriu de mistério para não me ter inteira?

De repente, o espelho pareceu-me o símbolo de uma derrota que o homem trazia para casa e tornava-me bonita. Não é verdade que te amo, marido? perguntei-lhe enquanto lia os jornais, para instruir-se, e eu varria as letras de imprensa cuspidas no chão logo após ele assimilar a notícia. Pediu, deixe-me progredir, mulher. Como quer que eu fale de amor quando se discutem as alternativas econômicas de um país em que os homens para sustentarem as mulheres precisam desdobrar um trabalho de escravo.

Eu lhe disse então, se não quer discutir o amor, que afinal bem pode estar longe daqui, ou atrás dos móveis para onde às vezes escondo a poeira depois de varrer a casa, que tal se após tantos anos eu mencionasse o futuro como se fosse uma sobremesa?

Ele deixou o jornal de lado, insistiu que eu repetisse. Falei na palavra futuro com cautela, não queria feri-lo, mas já não mais desistia de uma aventura africana recém-iniciada naquele momento. Seguida por um cortejo untado de suor e ansiedade, eu abatia os javalis, mergulhava meus caninos nas suas jugulares aquecidas, enquanto Clark Gable, atraído pelo meu cheiro e do animal em convulsão, ia pedindo de joelhos o meu amor. Sôfrega pelo esforço, eu sorvia água do rio, quem sabe em busca da febre que estava em minhas entranhas e eu não sabia como despertar. A pele ardente, o delírio, e as palavras que manchavam os meus lábios pela primeira vez, eu ruborizada de prazer e pudor, enquanto o pajé salvava-me a vida com seu ritual e seus pêlos fartos no peito. Com a saúde nos dedos, da minha boca parecia sair o sopro da vida e eu deixava então o Clark Gable amarrado numa árvore, lentamente comido pelas formigas. Imitando a Nayoka, eu descia o rio que quase me assaltara as forças, evitando as quedas d'água, aos gritos proclamando liberdade, a mais antiga e miríade das heranças.

O marido, com a palavra futuro a boiar-lhe nos olhos e o jornal caído no chão, pedia-me, o que significa este repúdio a um ninho de amor, segurança, tranqüilidade, enfim a nossa maravilhosa paz conjugal? E acha você, marido, que a paz conjugal se deixa amarrar com os fios tecidos pelo anzol, só porque mencionei esta palavra que te entristece, tanto que você começa a chorar discreto, porque o teu orgulho não lhe permite o pranto convulso, este sim, reservado à minha condição de mulher? Ah, marido, se tal palavra tem a descarga de te cegar, sacrifico-me outra vez para não vê-lo sofrer. Será que apagando o futuro agora ainda há tempo de salvar-te?

Suas crateras brilhantes sorveram depressa as lágrimas, tragou a fumaça do cigarro com volúpia e retomou a leitura. Dificilmente se encontraria homem como ele no nosso edifício de dezoito andares e três portarias. Nas reuniões de condomínio, a que estive presente, era ele o único a superar os obstáculos e perdoar aos que o haviam magoado. Recriminei meu egoísmo, ter assim perturbado a noite de quem merecia recuperar-se para a jornada seguinte.

Para esconder minha vergonha, trouxe-lhe café fresco e bolo de chocolate. Ele aceitou que eu me redimisse. Falou-me das despesas mensais. Do balanço da firma ligeiramente descompensado, havia que cuidar dos gastos. Se contasse com a minha colaboração, dispensaria o sócio em menos de um ano. Senti-me feliz em participar de um ato que nos faria progredir em doze meses. Sem o meu empenho, jamais ele teria sonhado tão alto. Encarregava-me eu à distância da sua capacidade de sonhar. Cada sonho do meu marido era mantido por mim. E, por tal direito, eu pagava a vida com cheque que não se poderia contabilizar.

Ele não precisava agradecer. De tal modo atingira a perfeição dos sentimentos, que lhe bastava continuar em minha companhia para querer significar que me amava, eu era o mais delicado fruto da terra, uma árvore no centro do terreno de nossa sala, ele subia na árvore, ganhava-lhe os frutos, acariciava a casca, podando seus excessos.

Durante uma semana bati-lhe à porta do banheiro com apenas um toque matutino. Disposta a fazer-lhe novo café, se o primeiro esfriasse, se esquecido ficasse a olhar-se no espelho com a mesma vaidade que me foi instilada desde a infância, logo que se confirmou no nascimento tratar-se de mais uma mulher. Ser mulher é perder-se no tempo, foi a regra de minha mãe. Queria dizer, quem mais vence o tempo que a condição feminina? O pai a aplaudia completando, o tempo não é o envelhecimento da mulher, mas sim o seu mistério jamais revelado ao mundo.

Já viu, filha, que coisa mais bonita, uma vida nunca revelada, que ninguém colheu senão o marido, o pai dos seus filhos? Os ensinamentos paternos sempre foram graves, ele dava brilho de prata à palavra envelhecimento. Vinha-me a certeza de que ao não se cumprir a história da mulher, não lhe sendo permitida a sua própria biografia, era-lhe assegurada em troca a juventude.

Só envelhece quem vive, disse o pai no dia do meu casamento. E porque viverás a vida do teu marido, nós te garantimos, através deste ato, que serás jovem para sempre. Eu não sabia como contornar o júbilo que me envolvia com o peso de um escudo, e ir ao seu coração, surpreender-lhe a limpidez. Ou agradecer-lhe um estado que eu não ambicionara antes, por distração talvez. E todo este troféu logo na noite em que ia converter-me em mulher. Pois até então sussurravam-me que eu era uma bela expectativa. Diferente do irmão que já na pia batismal cravaram-lhe o glorioso estigma de homem, antes de ter dormido com mulher.

Sempre me disseram que a alma da mulher surgia unicamente no leito, ungido seu sexo pelo homem. Antes dele a mãe insinuou que o nosso sexo mais parecia uma ostra nutrida de água salgada, e por isso vago e escorregadio, longe da realidade cativa da terra. A mãe gostava de poesia, suas imagens sempre frescas e quentes.

Meu coração ardia na noite do casamento. Eu ansiava pelo corpo novo que me haviam prometido, abandonar a casca que me revestira no cotidiano acomodado. As mãos do marido me modelariam até os meus últimos dias e como agradecer-lhe tal generosidade? Por isso talvez sejamos tão felizes como podem ser duas criaturas em que uma delas é a única a transportar para o lar alimento, esperança, a fé, a história de uma família.

Ele é único a trazer-me a vida, ainda que às vezes eu a viva com uma semana de atraso. O que não faz diferença. Levo até vantagens, porque ele sempre a trouxe traduzida. Não preciso interpretar os fatos, incorrer em erros, apelar para as palavras inquietantes que terminam por amordaçar a liberdade. As palavras do homem são aquelas de que deverei precisar ao longo da vida. Não tenho que assimilar um vocabulário incompatível com o meu destino, capaz de arruinar meu casamento.

Assim fui aprendendo que a minha consciência que está a serviço da minha felicidade ao mesmo tempo está a serviço do meu marido. É seu encargo podar meus excessos, a natureza dotou-me com o desejo de naufragar às vezes, ir ao fundo do mar em busca das esponjas. E para que me serviriam elas senão para absorver meus sonhos, multiplicá-los no silêncio borbulhante dos seus labirintos cheios de água do mar? Quero um sonho que se alcance com a luva forte e que se transforme algumas vezes numa torta de chocolate, para ele comer com os olhos brilhantes, e sorriremos juntos.

Ah, quando me sinto guerreira, prestes a tomar das armas e ganhar um rosto que não é o meu, mergulho numa exaltação dourada, caminho pelas ruas sem endereço, como se a partir de mim, e através do meu esforço, eu devesse conquistar outra pátria, nova língua, um corpo que sugasse a vida sem medo e pudor. E tudo me treme dentro, olho os que passam com um apetite de que não me envergonharei mais tarde. Felizmente, é uma sensação fugaz, logo busco o socorro das calçadas familiares, nelas a minha vida está estampada. As vitrines, os objetos, os seres amigos, tudo enfim orgulho da minha casa.

Estes meus atos de pássaro são bem indignos, feririam a honra do meu marido. Contrita, peço-lhe desculpas em pensamento, prometo-lhe esquivar-me de tais tentações. Ele parece perdoar-me à distância, aplaude minha submissão ao cotidiano feliz, que nos obriga a prosperar a cada ano. Confesso que esta ânsia me envergonha, não sei como abrandá-la. Não a menciono senão para mim mesma. Nem os votos conjugais impedem que em escassos minutos eu naufrague no sonho. Estes votos que ruborizam o corpo mas não marcaram minha vida de modo a que eu possa indicar as rugas que me vieram através do seu arrebato.

Nunca mencionei ao marido estes galopes perigosos e breves. Ele não suportaria o peso dessa confissão. Ou que lhe dissesse que nessas tardes penso em trabalhar fora, pagar as miudezas com meu próprio dinheiro. Claro que estes desatinos me colhem justamente pelo tempo que me sobra. Sou uma princesa da casa, ele me disse algumas vezes e com razão. Nada pois deve afastar-me da felicidade em que estou para sempre mergulhada.

Não posso reclamar. Todos os dias o marido contraria a versão do espelho. Olho-me ali e ele exige que eu me enxergue errado. Não sou em verdade as sombras, as rugas com que me vejo. Como o pai, também ele responde pela minha eterna juventude. É gentil de sentimentos. Jamais comemorou ruidosamente meu aniversário, para eu esquecer de contabilizar os anos. Ele pensa que não percebo. Mas, a verdade é que no fim do dia já não sei quantos anos tenho.

E também evita falar do meu corpo, que se alargou com os anos, já não visto os modelos de antes. Tenho os vestidos guardados no armário, para serem discretamente apreciados. Às sete da noite, todos os dias, ele abre a porta sabendo que do outro lado estou à sua espera. E quando a televisão exibe uns corpos em floração, mergulha a cara no jornal, no mundo só nós existimos.

Sou grata pelo esforço que faz em amar-me. Empenho-me em agradá-lo, ainda que sem vontade às vezes, ou me perturbe algum rosto estranho, que não é o dele, de um desconhecido sim, cuja imagem nunca mais quero rever. Sinto então a boca seca, seca por um cotidiano que confirma o gosto do pão comido às vésperas, e que me alimentará amanhã também. Um pão que ele e eu comemos há tantos anos sem reclamar, ungidos pelo amor, atados pela cerimônia de um casamento que nos declarou marido e mulher. Ah, sim, eu amo meu marido.

Extraído de "Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século", Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 2000, pág. 451, seleção de Italo Moriconi.


segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Vinícus de Moraes

Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado...

...De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.


E a palavra do dia foi perdão...sem programar, sem pensar. Pura conclusão,posto que acordei ouvindo isso:

Recado aos amigos distantes

Meus companheiros amados,
não vos espero nem chamo:
porque vou para outros lados.
Mas é certo que vos amo.

Nem sempre os que estão mais perto
fazem melhor companhia.
Mesmo com o sol encoberto,
todos sabem quando é dia.

Pelo vosso campo imenso,
vou cortando meus atalhos.
Por vosso amor é que penso
e me dou tantos trabalhos.

Não condeneis, por enquanto,
minha rebelde maneira.
Para libertar-me tanto,
fico vossa prisioneira.

Por mais que longe pareça,
ides na minha lembrança,
ides na minha cabeça,
valeis a minha Esperança.

(Cecília Meireles)

Felicidade

Será que felicidade é tudo o que a gente não tem?

O sonho a alcançar?
O beijo que não temos?
As flores que murcham nos sonhos antigos?
A casa nova, a mobília que ficam presas em revistas velhas?
Os sorrisos infantis que se desfazem sob o sol de cada dia?

Sei não...

Será que a morte lenta é alento e aplaca a ansiedade?
Será que a morte nos despe e decifra por inteiros: presente,passado e futuro?Que futuro?

Relato de um anjo-da-guarda - Parte 1

Podem me chamar de Gustavo Formenti , sou um anjo-da-guarda e gostaria de falar um pouco sobre a minha profissão. Não pensem que, por responder diretamente ao Divino, minhas funçoes sejam menos burocráticas ou problemáticas. Como qualquer funcionário há muito tempo na profissão, tenho encontrado alguns problemas...
Se vocês não sabem, uma das funções do anjo-da-guarda é, depois que seus tutelados entram na fase adulta, ajudá-los a encontrar a alma gêmea. Sim, como anjo-da-guarda e profundo conhecedor e estudioso dos assuntos divinos, afirmo convictamente a existência de almas gêmeas!
Ainda não posso me declarar um profundo conhecedor do assunto, até porque minhas experiências recentes me desmentiriam, mas é sabido que cada ser humano tem,no mínimo,uma alma gêmea.
Cá entre nós, acho essa resolução do Todo Poderoso, maravilhosa...e não quero que pensem que estou tentando puxar o sado dele, pois é impossível,já que ele perscruta nossa alma e não conseguimos ser falsos perante Ele.
Acho excelente quando consigo unir as almas gêmeas, já que a união dessas duas pessoas e o amor existente entre elas, acaba facilitando sobremaneira o trabalho do anjo-da-guarda. Por quê?
Ora, casais que se amam verdadeiramente, impreterivelmente, encontram imenso prazer em cuidar um do outro e, como vocês podem imaginar, isso dá uma certa "folga" ao anjo-da-guarda. Geralmente, durante os idílios amorosos, aproveito para fazer rápidas incursões aos litorais mundiais...
Mas, esse anjo que vos fala anda muito questionador, diria que até bem chateado. Tive dois fracassos com relação à união de apaixonados e estou decepcionado com meu desempenho: fracassei com a Edith Piaf, quer dizer, consegui concluir o serviço bem tarde e ela não pôde aproveitar muito a existência terrena ao lado de sua alma gêmea; e mais recentemente, fracassei com a Jennifer Aniston...acho que nesse caso não precisarei entrar em detalhes...
Há 352 anos étereos, presto serviço ao Divino e, caso eu não obtenha êxito com a minha atual tutelada, creio que o mais justo a fazer, será pedir transferência para outra área, talvez a Área de Resgate de Almas Perdidas.
E saibam... se quero obter o sucesso profissional, tal desejo não se deve a ambição desmedida ou vaidade, quero esclarecer que , a cada fracasso meu, a tristeza de meus tutelados recaí e se acumula sobre minhas asas, causando também em mim, imensa tristeza e desânimo.

(continua...hehehehe)

Uma delicada forma de calor

Lobão e Zeca juntos! Presente master...amooooooooooooo!!!




Trilha 2012 chovendo aqui dentro...rs

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Tradução Try,try, try ( Trilha 2012 )

Tente, Tente, Tente

Estalo picante
Qual é a nossa missão?
Sabemos
Mas nunca ouvimos
Durante demasiado tempo
Eles mantiveram-me no âmbito
Mas eu ouvi
É quase a acabar
Em Detroit
Em um trem Memphis
Como você disse, é
Desceu no calor e as chuvas de verão
A gaze automática de suas memórias
Desceu no sono no avião de corridas
Tente manter-se firme
Para o coração
Um pouco mais
Tente manter-se firme
Para este amor em voz alta
Tente manter-se firme
Para o coração
Um pouco mais frio
Tente manter-se firme
Para o amor
[Em um]Livro de brochura rabisco seus ocultos poemas
Escritos em torno da saída flores secas
Aqui ainda estamos comerciais locais
Para tentar deter sobre
Estalo picante
Você pode vislumbrar
Um mundo livre
De uma visão clara
Durante demasiado tempo
Eles mantiveram-nos sob
Mas sei
Estamos recebendo mais de
Em Detroit
Com as lágrimas Nashville
Como você disse, é
Desceu no calor com os números quebrados
Desceu no olhar da solenidade
Desceu na maneira que você realizou em conjunto
Para tentar deter sobre
Para o coração
Um pouco mais perto
Tente manter-se firme
Para este amor em voz alta
Tente manter-se firme
Para o coração dos
Um pouco mais velhos
Tente manter-se firme
Para este amor em voz alta
E ainda estamos vivos
Tente manter-se firme
E nós temos sobrevivido
Tente manter-se firme
E ninguém deve negar
Tentamos agarrar o pulso do gabarito corrente
Para o fluxo de circulação codificado
Slapback mata remanescentes da antiga
Que tentam manter-se firme
Tente manter-se firme
Para o coração vivo
Tente manter-se firme
Para este amor em voz alta
Tente manter-se firme
E ainda estamos vivos
Tente manter-se firme
E nós temos sobrevivido
Tente manter-se firme
Estalo picante
Você nunca escuta
Joelhos esfolados
Tente manter-se firme
Pare de início
Qual é a nossa missão
Joelhos esfolados
Tente manter-se firme