terça-feira, 20 de março de 2012

Metáfora de mim

Não sou muito de viajar,acho que o medo de avião me bloqueia um pouco,mas estabeleço analogias entre os desacontecimentos de minha vida e os lugares que não fui...

"Ando pelas planícies áridas do Iraque e o sol, teima em ofuscar minha visão. Caminho infinitos quilômetros que parecem sempre me trazer a uma mesma rua de terra batida e pedriscos soltos. Não temo qualquer ataque aéreo,nem balas perdidas...arrasto meus pés e corpo pesados e, recarrego as forças que restam dando pequenos goles na água fervente do cantil que carrego.
No decorrer de minha caminhada, me despojei de supérfluos: ilusão, esperança,crença no amor. Concluo que, nada devo encontrar que valha a pena o peso de uma jornada que, lá na frente, se mostrará inútil ( ou insuficiente???). Quero minha mochila vazia...
Tudo o que tenho agora é cansaço, sede e visão turva. Nada me falta,posto que nada mais procuro. E fazendo alusão à "Alice no país das maravilhas", não importa o caminho escolhido, uma vez que não sei onde quero ( e se quero...) chegar. Viver é andar! Ciclicamente, involuntariamente, pesadamente, zumbizamente...
Minhas pernas , as sinto trêmulas. E por um instinto idiota de sobrevivência, procuro por sombras, onde possa descansar e fechar um pouco meus olhos cansados...
Depois de 18 dias sob o sol escaldante e extenuante,encontro o que outrora fora um lar. Pelos alicerces que restaram e algumas paredes descascadas,concluo que ali havia uma simples residência de cinco cômodos. È o lugar ideal para encontrar a tão almejada sombra...
Sento-me sobre os escombros e recosto minha cabeça de pensamentos desconexos em uma das paredes restantes...quero fechar os olhos,mas algo me impele a não fazê-lo. Olho para o céu sem nuvens e depois, começo a investigar os restos de um sonho: pedras pelo chão, paredes partidas, cacos de vidro, madeiras despedaçadas e...uma foto.
Uma foto sobrevivente e desgastada pelo tempo, que milagrosamente tenta contar uma história antes que ocorresse o massacre.
A foto contou a história que eu quis ler: um homem,uma mulher. Sorriam e ,talvez, fossem felizes. Talvez não. Talvez ela o amasse e ele não. Talvez ele a amasse também. Talvez tudo fosse ilusão,inclusive a existência da foto.
De qualquer forma e sob quaisquer possibilidades, essa história estava ali, jogada e morta sob os escombros.
Largo a foto que escorrega de meu colo, encosto a cabeça na parede e agora já posso fechar os olhos e as portas imaginárias daquela casa. Faz frio, me encolho. Mas, me sinto leve e vivo,mesmo sobre os escombros..."

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