segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Diálogos II

- Vou te levar para a casa...
- Pode levar,para outra casa...
- Onde?
- Não importa onde,nem mesmo se essa casa é feita de tijolos...
- Como?
- Pode ser uma cabana,uma barraca de camping. Pode ser um lugar qualquer...
- De onde vejamos o céu?
- De onde vejamos estrelas...
- Utopia. Impossível...
- É perante a impossibilidade que geramos o que de melhor há em nós.
- Será?
- Provavelmente...rs

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Bagagem de mão...ou não!

Chega uma hora em que a sessão da tarde perde a graça, hora em que decidimos não acreditar e sequer esperar por momentos felizes em nossas vidas. Amor? Acaba sendo uma palavrinha que gera bons lucros a cartórios e advogados...

Eu andava pela rua, contando meus passos e não pisando nas linhas dos rejuntes do piso colocado no calçamento. Às vezes eu olho ao redor,ver se alguém me olha ou me persegue. Olho para trás também, ver se meu salto não se perdeu em algum buraco.

Um dia, ao olhar ao redor, constato que a maioria das pessoas que trajam roupa social, carregam em suas costas mochilas aparentemente lotadas. Seria uma nova geração de andarilhos executivos? Levando dentro das mochilas objetos de primeira necessidade para o caso de precisarem pernoitar no serviço?

Eu carrego a minha, tenho minha mochila há 6 anos. Carrego livros, pasta de dente, escova de dentes, batom, caderno, estojo com lápis e caneta, dinheiro, CPF e RG. Nunca se sabe...

Ninguém sabe o que carrego. Ninguém jamais soube...

Um dia, impaciente esperando um ônibus que estava bastante atrasado, resolvi fechar o livro e olhar ao redor. Havia um homem ao meu lado, carregando uma mochila preta. Coincidência! Preta igual a minha!

Eu olhava , ele olhava, eu olhava , ele olhava...

- Ei! Você sabe se o ônibus Bairro das Camélias já passou? Perguntei para puxar conversa...

- Olha moça, eu cheguei aqui depois da senhora, então não sei informá-la.

- Tudo bem, obrigada assim mesmo. E eu não sou senhora.

De repente era como se o conteúdo de minha mochila pretendesse se revelar ao homem desconhecido. Revelar-se. Ele tinha o rosto infantil e como sorrira quando eu falei que não era senhora, percebi que o que imprimia a seu rosto o ar de criança, só poderia ser o sorriso.

- Desculpe. Não quis ofender...

- Não, não ofende. Só quero deixar as coisas claras. Você está vindo direto do serviço?

Não sei de onde tirei aquela pergunta à queima-roupa.

- Não, eu estudo por aqui. E você, vem do trabalho?

- Não, eu estudo por aqui. Coincidência ,não é? Sua mochila é preta, como a minha...

- É ...cor neutra,né?

- Ou talvez haja uma conjunção astrológica mostrando que há destino. Coincidência é destino. Qual o seu signo?

- Não me ligo muito nisso, mas é gêmeos.

- Ótimo! Sou virgem...

Enquanto conversávamos, percebia as luzes dos ônibus que se aproximavam e partiam. Só que eu já havia chegado.

O dono do boteco que ficava ao lado do ponto de ônibus, fechava o estabelecimento e continuamos a conversar.

Fazia muito tempo que ninguém olhava para o que sou, fazia muito tempo que eu não olhava para o que ele era. Os conteúdos das mochilas continuavam ocultos, para mim, para ele. Seus pesos, suas dores, suas alegrias, tudo o que continha a mochila, ainda não se revelara para mim. Meus pesos, dores, alegrias, ainda não se revelaram para ele...

- Nossas mochilas são da mesma cor!

Ele segurou minha mão e fomos andando pela avenida, para algum lugar que só se revelaria quando abertas as mochilas...

(Em 2008...)

Deus ex machina

Nunca tive a curiosidade do cientista, simplesmente deixava a vida passar e ia passando displicentemente por ela: com minhas preocupações medíocres como cobertura de conta bancária, escola das crianças, aluguel do apartamento, enfim, todas estas questões tão absolutamente lógicas.
Não imaginava que numa quarta-feira nublada eu pudesse mudar completamente tudo o que eu pensava sobre lógica. Afinal que lógica há em viver para cumprir protocolos diversos sem que possamos nos ater ao que é fundamental para cada um de nós? E o que seria fundamental? Ter dinheiro para os suprimentos básicos para a sobrevivência para continuarmos apenas sobrevivendo?
Cada poeira que assenta neste chão, por sobre este calçamento desgastado pelo tempo; cada passo que acrescenta desgaste a esse chão, cada voz que torna-se inaudível dentre tantas outras vozes...eu só ouço a música. Uma música de dentro, música da minha cabeça...estou num mundo que é só meu,perco-me dos outros.
Os outros estão andando, cada um com suas preocupações individuais e com seus fones de ouvido: cada um ouve sua própria música!
Quem estes seres pensam que são? Se acham no direito de subverter a lógica que pressupõe natural a relação entre animais da mesma espécie.
Universo de cabeças , universo de planetas que a exemplo dos meteoros se deslocam com facilidade mantendo cada planeta seu movimento de rotação, pois não há espaço para a translação...
Engraçado como o fone de ouvido machuca as orelhas...aparelhinho pequeno ,para alguns a maior invenção desde a roda.
Dá saudade da família reunida, todos em trajes sociais, cabelos arrumados e ao redor da vitrola para ouvirem música. A música era compartilhada entre os amigos e demarcava um evento social, servia como base para possibilitar um ritual entre os da mesma espécie. Será que eu vivi isso? Será que criei?
O homem caminha e cria roteiro do que ele se acha incapaz de executar e revive o que não passa de uma projeção de futuro. Vivem no vácuo, em meio ao nada, passado e futuro não existem. Presente. Presente de natal para o filho de 12 anos pode ser um mp10³.

“Olha o dvd!!! Promoção: 3 por R$10,00”

“Moço, deixa eu ler sua mão?Tem uma loira e uma morena que gostam do senhor”

“Você poderia me dar uma ajudinha pra mim comprar comida pros meus filho?”

“Dá licença?”

“Tem troco para R$20,00”

“De onde sai o Terminal Bandeira?”

São lindas as construções antigas que me observam passar efetuando o movimento de rotação. Elas tem muitos anos, algumas estão preservadas, outras viraram cortiços ou prédios abandonados. Quantas igrejas...
Tudo isso passa por minhas retinas e já não consigo decidir o que é pensamento e o que é realidade. Posso ter criado a Catedral da Sé enquanto a música de minha cabeça me levou ao encontro de minha primeira namorada, teria casado com ela.
Opa! Tropecei. Tropecei e no meu planeta ninguém entra, o ar é rarefeito, não afeito ao estabelecimento de relações.
Meu tornozelo dói muito. Estou no chão. Uma senhora se aproxima e olha para mim. Outra mulher para ao lado dela e ouço ao longe “Deve estar bêbado!”. O homem que vende roupas na rua para ao lado delas, olha com cara de quem está cansado. Uma mãe com dois filhos , um de colo, pede para me ajudarem. Não quero. Não quero invasão no mundo perfeito e inexistente que criei em mim. “Chamem o guarda no posto policial”. Uma adolescente mascando chiclete ouve música, tem fios saindo de seus ouvidos, masca chiclete e balança a cabeça ao ritmo de sua música; olha para mim e me estende o fone de ouvido dela. Levanto-me e ela sacode a poeira acumulada em meus joelhos, cinzas e sujeiras espalhadas pelo chão.
Entrei naquele planeta, não trocamos uma palavra sequer, ela me guiou pelas ruas da cidade, eu no mundo dela e ela fora do meu mundo. E dó pó surgiu um homem...

Diálogos I

- Você gosta de março?
- Gosto.
- E de junho?
- Bastante, é frio...
- Eu também...
- Sua marca de nascença...
- Na mão direita.
- A minha também...
- Quase igual.
- Gêmeas? As almas...
- Bivitelinas.Placentas diferentes,sabe?
- Sei...tudo diferente?
- Muito pouco diferente...

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A Culpa II

A Culpa
A culpa é o motivo que nos prende a situações sufocantes na nossa vida. Nos sentimos meio que sem ação, sem iniciativa para mudar, angustiados e paralisados ao mesmo tempo. A culpa nos sequestra e nos tornamos reféns dela.

Na minha vida a culpa agiu bem marcante.

Nos relacionamentos amorosos, foram aquelas relações desgastadas que poderiam ter sido terminadas muito antes do que foram, mas se arrastaram por um tempo desnecessário, por preocupação de como a parceira iria ficar. Sim, você sente uma culpa futura, caso você termine com aquela pessoa e algo dê errado com ela. E essa culpa te aprisiona numa relação que poderia terminar tranquilamente, mas que vai ficando sufocante. Porque quando nos sentimos culpados, a pessoa motivo dessa culpa, sabe disso, ela sente e usa ao seu favor. A gente não ficaria refém desse sentimento tão negativo, se a outra pessoa "pagasse o resgate", ou seja, se ela nos libertasse, se ela simplesmente nos deixasse ir. Ao invés disso, se cria um vínculo nebuloso, em que o "culpado" e "vítima" se unem num laço difícil de se quebrar. Esse é o princípio da obsessão no Espiritismo, mas o post não é sobre obsessão... rs

extraído do blog: http://confissoes-femininas.blogspot.com/ (Confissões Ácidas).

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

I'm like a rolling stone...

A ideia do impossível acontecer,me excita...estimula meus sentidos e meus pés desencontrados respondem nessa busca insana que desconheço!
Eu entro no laboratório,ela injeta uma agulha em meu braço,meu sangue jorra. Não dói! Nada dói!A dor? Este corpo já não a elabora...a concepção de dor não é parte de minha existência;mas e minha alma? Minha alma procura entre as travessas do Paraíso, a razão de minha existência.
Posso viver sem mim? Posso viver sem você em mim? Você vive...
Simples como a nuvem em forma de "ratinho" que desponta entre os altos edifícios,sigo andando...muito devagar, bem devagar se comparado ao ritmo de meus pensamentos.
Se eu pudesse,gritaria de cima deste viaduto - por onde passo agora sozinha -,para você me alcançar, para você não me deixar ir...(já deixou???)
Se eu pudesse,pediria permissão a Deus para reescrever um ou dois capítulos de nossa história;mas Ele ainda não deixou...
Sinto-me no meio de um túnel carregado de imagens psicodélicas que criam a ilusão de movimento e me deixam tonta...essas imagens são os rostos que passam por mim e teimo em não fixá-los em minha memória. Se cheguei a alguma conclusão?
Fora o que eu sei que não sei e o que não quero,lógico que não...rs
Mas de uma coisa tenho certeza,agora sinto o que Camões quis dizer com...

Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer

É um não querer mais que bem querer;

É solitário andar por entre a gente;

É nunca contentar-se de contente;

É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;

É servir a quem vence, o vencedor;

É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade,

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Murilo!!!


Gente,acabo de entrar oficialmente para a turma das titias!!! Meu sobrinho nasceu mega-blaster grande e gordinho! Super sereno,cabeludo e,claro,sem dentes...
Tenho poucas certezas na vida,mas com relação a ele nada me aflige,sei que tudo vai dar certo!
E olhem essas pernas gordinhas!!! Ele não perde por esperar...

Livro do Desassossego - Bernardo Soares

Dizem alguns que tudo é acaso,coincidência,mas na minha singela opinião, coincidência não existe...
Até os livros que irrompem por nossas vidas,creio terem um porquê. É o caso do Livro do Desassossego, de Bernardo Soares - um dos heterônimos de Fernando Pessoa.
Pois é, costumo ler várias coisas ao mesmo tempo. Nas últimas duas semanas li Estorvo -Chico Buarque, Benjamin - Chico Buarque;mas é o Livro do Desassossego que tem falado diretamente com minhas neuroses mais profundas ( ou rasas?).
Inquieta estou,inquieto o livro me deixa. Sem reconhecer direito minha identidade,identidade é o que o livro questiona.Sem saber quais são os valores reais e ideais inerentes ao bicho-homem, o livro desfaz o circo social no qual vivemos...

Seguem por aqui, alguns trechos que refletem a maluquice que anda minha cabeça:

"Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância,pois nada tem importância.Faço paisagens com o que sinto. Faço férias das sensações."

"Sou o contrário dos espiritualistas simbolistas,para quem todo o ser, e todo o acontecimento,é a sombra de uma realidade de que é a sombra apenas. Cada coisa,para mim, é, em vez de um ponto de chegada,um ponto de partida.Para o ocultista tudo acaba em tudo;tudo começa em tudo para mim."

"O amor é um misticismo que quer praticar-se,uma impossibilidade que só é sonhada como devendo ser realizada."

"No amor diferente do sexual,buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma ideia nossa."

"As relações entre uma alma e outra,através de coisas tão incertas e divergentes como as palavras comuns e os gestos que se empreendem,são matéria de estranha complexidade."

"Nada se penetra,nem átomos,nem almas.Por isso nada possui nada. Desde a verdade até a um lenço - tudo é impossível.(A propriedade não é um roubo:não é nada.)"

"Devaneio com o pensamento,e estou certo que isto que escrevo,já escrevi.Recordo.E pergunto ao que em mim presume do ser se não haverá no platonismo das sensações outra anamnese mais inclinada,outra recordação de uma vida anterior que seja apenas desta vida...
Meu Deus,meu Deus, a quem assisto? Quantos sou? Quem é eu? O que é este intervalo que há entre mim e mim?"

Isto dito,nada mais tenho a dizer...rs

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Convenções,crenças,certezas,verdades

É tão fácil sonhar, idealizar,projetar algo que vai muito além do que podemos controlar...
Será que o sonho acordado é a melhor válvula de escape para fugir aos dramas que a vida nos impõe? Deve ser um subterfúgio criado por Deus,para que em alguns momentos, vejamos graça em determinar nosso próprio destino...
O que nos conduz pela vida? O acordar,trabalhar,garantir o pão, amar,seguir convenções,pescar de vez em quando,recordar,sonhar...
O que nos conduz com mais afinco,afinal? Trabalhar,garantir o pão,seguir convenções! Pra mim isso é completamente errado!!! Supérfluo,irrelevante e são estes itens que deixamos que conduzam nossa vida,nossas escolhas? Não, sinto muito,não vou ser assim! Não mesmo, podem até me tachar de qualquer coisa de acordo com as convenções que regem vidas plenas de infelicidade! Não pra mim...
Convenções,crenças,certezas,verdades...e se - como uma pessoa muito querida me falou semana passada - nossas certezas estiverem baseadas umas nas outras e a certeza que norteia todas as demais não se comprova??????????
Então,o que faremos????