domingo, 25 de outubro de 2015

Desenconto 7 - Sobre Lilith e Andreas,sobre Andreas e Lilith

E seguiram com a sensação de que alguma coisa havia, finalmente, acontecido. Mas seguiam caladas, porque é o melhor a fazer para não alimentar a antiga esperança de que , dentre os humanos, a vida seria capaz de colocar na vida delas pessoas boas.
Apesar de ter sentido uma afinidade muito grande com Andreas, Lilith era bicho acuado, sentia medo e preferiu não tirar a máscara. Continuou fazendo um simulacro de si mesma, pretendendo mostrar indiferença e superficialidade. Mas alguma coisa tinha acontecido, ela preferia continuar nos bastidores de sua própria vida, pois desconfiava de si mesma e de seus sentimentos. Seria melhor não esperar nada da vida, do destino ou de outra pessoa...
Muito melhor esperar o nada absoluto, o não cumprimento do compromisso marcado para segunda-feira...
Lilith sozinha, face a face com ela mesmo, não deveria e nem poderia negar a ansiedade que a invadia. Seis e pouco da manhã Andreas mandou mensagem, ele iria na casa de Lilith para um café. E nesse momento, sozinha em seu quarto e com o celular na mão, Lilith esboçou um sorriso...
Ela queria um tanto. Ele? Como saber o que outra pessoa pensa? Sabemos o que ela fala, quando fala...lembrando que a outra pessoa pode estar usando a máscara também. Como prever? Como adivinhar?
Ela sentiu que ele estava chegando e saiu de casa para recebê-lo com um tanto de coração saindo pela boca, com a alma sorridente, com tremor, com temor...beijaram-se fugazmente e entraram. Lilith queria que Andreas se sentisse a vontade. Conversaram e como da primeira vez, as palavras fluíam naturalmente, havia uma afinidade nas palavras e ideias desenvolvidas. Era encantador e assustador ao mesmo tempo, difícil acreditar na pouca idade de Andreas, pela inteligência e maturidade que ele carregava e a maioria dos homens mais velhos negava enquanto exibiam frases de um repertório superficial.
Pararam de falar por um tempo e seguiram juntos para o quarto. Estiveram calados e suados, uniram por este tempo, bocas, braços,pernas, respiração,abraços, línguas, suor, frio na barriga...êxtase e conversa, aconchego...
Houve o aparecimento do sorriso do gato da Alice, que sorrateiramente se alojou no colo de Andreas. Lilith preferiu ignorar sinais, pois por crer em símbolos inconsistentes ficara alguns anos alimentando o monstro da ilusão. Ela precisava um pouco de vida real, de presente! Cansou de viver mais tempo em seus sonhos do que na realidade. Podia ser né? Vai ver o destino terminara o rascunho de sua vida baseado em ilusões perdidas e dava uma chance de presente no modo indicativo. Melhor nada esperar e esperar...
Marcaram de se encontrar na quarta-feira seguinte, aquele grupo de pessoas que se encontrou por acaso, que se entenderam por acaso e que por acaso tinham histórias diferentes e tantos pontos em comum! O acaso havia, enfim, acertado???? Se encontraram e Lilith percebeu quase que instantaneamente o distanciamento de Andreas...mas, ela ficou brincando consigo mesma e tentando se enganar mais um pouco na tentativa de estender aquela expectativa de mudança, de acontecimentos reais...
Beberam, riram e ele se afastava. Ela precisava encarar os fatos. Era Thanatos novamente...Andreas a evitava, ela percebendo, mentia para si mesma, já que entendeu tudo errado sempre,talvez estivesse interpretando erroneamente a atitude dele. Lilith procurou se divertir, colocando a máscara da felicidade vendida em lojas de R$1,99. Colocou o óculos da escuridão e torceu para estar errada...
Todos se despediram por volta de 02h00, Andreas acompanhou Lilith carregando consigo seu distanciamento. Naquele cruzamento da Oscar Nelson com a Teotônio, ele falou calmamente sobre seus sonhos...
Foi bonito e triste ao mesmo tempo...
Andreas era realmente um homem decente, capaz de lidar com suas verdade, capaz de deixar clara a obscuridade. Ele queria mais, ela não era esse mais. Ele carregava o desejo de ter da vida o máximo possível. Ela percebeu que também podia querer...ele estava ensinando isso para ela, em poucas palavras. Fazendo com que ela resgatasse sua personalidade verdadeira, aquela que se despia da máscara...
O abraço foi apertado. Ele querendo ir. Ela querendo ficar...
Thanatos assistia a tudo, escondido na penumbra da noite, escorado da parede do condomínio vizinho...
Lilith atravessou a avenida. Andreas entrou na Oscar Nelson. Ela olho para trás. Ele não olhou...
O vento uivava e arrastava a máscara que havia caído na calçada...

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